C.U. Doce, conheça o enredo do GRESV Corações Unidos

C.U Doce

Autor: Romulo de Souza /  Lukas Schultheiss

Respire fundo! Sentiu um cheiro doce no ar? A partir deste momento todos os sentidos estarão mais apurados, pois a Corações Unidos invadirá a avenida trazendo aromas, sabores, texturas, cores e recheada de histórias para falar de algo que está na boca do povo: o doce.

Desde os tempos mais remotos o homem sempre buscou maneiras de alterar o sabor dos alimentos. Na mitologia, os sabores mais doces eram oferecidos aos deuses – inclusive um deles usava instrumentos feitos de doces. Já com os devidos da cana da cana-de-açúcar o doce chega à mesa dos nobres europeus e faz surgir os confeiteiros e receitas que são reproduzidas até hoje. E com elas, novos mitos, novas histórias e novos sabores são criados.

Um doce divino
(ou… da história à mitologia, os doces em homenagem aos deuses)

Para muitas pessoas receber ou comer um doce gera um prazer tão grande que se iguala a um orgasmo. As pupilas dilatam, o coração bate mais forte, os pelos arrepiam, a respiração fica ofegante… pode parecer exagerado, mas para a cultura Hindu essas sensações estão intrinsecamente ligadas. Afinal, Kamadeva, uma espécie de cupido, uma divindade que controla o amor e o erotismo utiliza-se de um arco feito de cana-de–açúcar, com a corda feita de mel de abelhas e suas flechas são compostas de 5 tipos de flores: ashoka, lótus branco e azul, mallika e manga. É assim, juntando o doce do mel e da cana e o aroma das flores ele flecha o coração dos apaixonados. E os nomes pelos quais a divindade é conhecida, não poderiam ser mais certeiros: Ragavrinda (O ramo da paixão), Ananga (O incorpóreo), Kandarpa (o que inflama até os deuses), Manmatha (o que agita os corações), Manasija (O que nasce da mente), Madana (O intoxicante). Para proteger e acompanhar a divindade segue um exército de abelhas zunindo e um papagaio.

E por falar em abelhas, na mitologia grega,Virgílio, um poeta e pensador romano, em seu 4º livro das “Geórgicas” relata que o personagem Aristeu teria sido o primeiro apicultor da história e que cultivava abelhas em carcaças de animais. Mas, quem primeiro ficou famoso por fazer uso das colmeias foram os bárbaros. As noites nas tavernas eram de pura anarquia. Homens imensos, ornamentados com peles de animais, chapéus com chifres e tacapes, ora festejavam, ora se engalfinhavam por qualquer motivo. E como um encontro destes pede uma bebida e a cerveja só foi inventada empos depois, o que eles tomavam era uma beberagem doce, sagrada e “meio mágica”, o hidromel, uma mistura de mel e água, fermentada, ninguém sabe quem inventou ou como surgiu, mas durante séculos foi essencial para os povos bárbaros, gregos e romanos. Dizem até que é a bebida favorita dos Deuses Nórdicos. E dela também surgiu a expressão “lua de mel”, pois os casais que, em honra aos deuses, tomassem essa bebida durante um ciclo lunar após o casamento seriam agraciados com filhos varões.

Os Deuses realmente influenciam e muito a vida dos povos. Foi para eles que boa parte dos doces foram criados ou oferecidos. Nos baixos relevos gravados há séculos na tumba do egípcio faraó Ramsés III, aparece uma variedade de doces fabricados com farinha de trigo, mel, frutas e especiarias que serviam de oferendas aos deuses. Já os gregos, criaram o Manjar dos Deuses do Olimpo, a ambrosia, um doce com sabor divinal, que segundo a mitologia, era tão poderoso que se um mortal (a quem era vedado o consumo) a comece, ganharia a imortalidade. Com os astecas a história foi diferente, o Deus Quetzalcoatl, é que trouxe uma comida deles para o paladar humano, o delicioso chocolate. E com eles também, veio o hábito de mascar tzictli, o látex do sapoti, que mais tarde deu origem ao nosso chiclete; isso sem falar no aroma e sabor da baunilha, nascida do sangue da filha Deusa da Fertilidade e produzida pelos povos Totonacas. A baunilha misturada ao chocolate e outras especiarias, gerava uma mistura incomparável, que era consumida pelo Imperador Montezuma antes de ir para o seu harém de 600 mulheres, fazendo os europeus acreditarem que ela aumentava a libido e a performance sexual.

A influência europeia
(ou, como a Europa aperfeiçoou o sabor e o tornou comercial)

O sabor adocicado foi incluído aos banquetes europeus conforme novas transações e descobertas geográficas eram feitas. A cada novo povo conhecido, chegavam mais e mais influências para a já renomada cozinha do Reinos de Portugal, Espanha, Itália e França. O açúcar, principal produto da cana, que já era consumido por reis e nobres na Europa, por intermédios dos mercadores do oriente tinha fins médicos e seu valor era tão caro que registrava-se a posse até em testamentos. Com a colonização de territórios na África e nas Américas, o cultivo da cana-de-açúcar aumentou. E refinado, em Veneza ele foi parar nas cozinhas e mesas da nobreza, servindo de complementação e mais tarde de ingrediente principal para os mais diversos pratos.
Adicionando açúcar às massas já conhecidas surgiram bolos, tortas, “biscuit”, folhados, “petit fours”, marzipãs, balas, gomas, pirulitos, caramelos, cremes e tantos outras receitas que eram servidas como acompanhamento para a mais nova moda europeia: o café. Fornadas cada vez maiores, receitas cada vez mais elaboradas eram disputadas pelos novos chefes de cozinha, que agora, chamados de confeiteiros, também se especializavam em sabores doces. E foi misturando as frutas, o mel, o leite, o chocolate, a baunilha, as flores e o açúcar, que eles criaram seus pratos. É o início das confeitarias, das docerias, dos cafés e das casas de chá, onde a comida ganhou status de obra de arte, pois não somente a qualidade e o sabor importavam, mas também a aparência artística.

As guloseimas temáticas
(ou, como as datas comemorativas ganharam seus próprios doces)

Jujuba, bananada, pipoca, cocada, queijadinha, sorvete, chiclete… comer muitos doces já traziam problemas desde o início de sua criação. O organismo dá sinais de que não suporta tanta ingestão de açúcares. Por outro lado, muitas pessoas não tinham condição de comprar doces sempre e por isso, o faziam em datas especiais, oferecendo aos parentes, amigos e enamorados como presente. E para isso, os confeiteiros, começaram a criar pratos e produtos específicos para estas determinadas datas, assim como os antigos faziam em honras aos Deuses.
Surgiram assim os bolos de aniversários, as colombas pascais, as tortas de natal, rabanadas, o bolo de reis, os divertidos biscoitos de gengibre, as caixas de chocolate e até mesmo reinvenções de tradições milenares, como os ovos de páscoa, que se tornaram ovos de chocolate pelos pâtissiers franceses que recheavam ovos de galinha, depois de esvaziados de clara e gema, com chocolate e os pintavam por fora. Com melhores tecnologias, a partir do final do século XIX, se difundiram os ovos totalmente feitos de chocolate, utilizados até hoje. O mesmo aconteceu com o Pão do Mortos, no México, uma lenda sobre o sacrifício de uma princesa foi transformada em uma gostosura servida apenas no Dia dos Mortos. E por falar em gostosura, isso logo nos remete ao “Travessuras ou Gostosuras?”, ditas pelos pequeninos estadunidenses na época de Hallowen, quando saem de casa em casa fantasiados recolhendo doces pela vizinhança. Prática parecida fazem os brasileiros no dia de São Cosme e Damião.

Uma doce leitura
(Ou, como a literatura ajudou a difundir o doce paladar entre as crianças)

Imagine morar numa casa cheia de doces? Participar de um concurso de bolos? Ou então, ter uma cozinheira especializada em fazer bolinhos de chuva? Quem sabe, então, ser dono de sua própria fábrica de chocolates. Essas e outras doces histórias recheadas de aventuras fazem parte da infância de milhares de pessoas por todo o mundo. E todas elas têm um comum os doces. Além de uma forma de incentivar as crianças a lerem, elas enchem os olhos e nos deixam babando imaginando cada um daqueles doces em nossa frente.

“João e Maria”, história contada e recontada desde os tempos mais antigos, falam sobre uma velha senhora que mora numa casa feita de doces e que rapta dois irmãos abandonados na floresta. Enquanto Maria é forçada a cozinhar e limpar a casa, João é preso e forçado a comer e engordar para servir de refeição para a velha. Quem também comia muito, eram o netos da Dona Benta, a proprietária do “Sitio do Pica-Pau Amarelo”. Enquanto ela contava histórias e lendas das florestas, sua cozinheira, Tia Anastácia preparada os famosos bolinhos de chuva, que se tornaram frequentes nos cafés da tarde de diversas casas do Brasil.

No teatro, a história de “Maroquinhas Fru Fru”, uma divertida confeiteira que vence um concurso de bolos é contada até hoje nos palcos. O prêmio, um colar de pérolas é roubado e uma verdadeira investigação é feita enquanto o público se delicia provando os bolos do concurso.
No cinema, algumas versões do livro de “Charlie e a Fábrica de Chocolate” fizeram o público, rir, se emocionar e babar pelas centenas de doces produzidas pelos engraçados Oompa-Loompas, que entre diversos experimentos criaram aquilo que é o sonho de muitos: um rio de chocolate, uma chiclete que não perde o gosto, quebra-queixos perpétuos, doces vivos e os mais saborosos chocolates de todo mundo. Todos queriam morar na Fantástica Fabrica de Chocolates de Willy Wonka.

Um doce lugar
(ou, o lugar onde os prazeres não têm fim)

Se na literatura já é bom imaginar que os doces podem ser infinitos e estarem sempre à disposição, imagine um lugar onde este e outros prazeres realmente existam em abundância. Esse lugar existe, pelo menos, na mitologia: Cocanha. Na tradição oral dos franceses que se espalhou e ganhou novos contornos pelo mundo, trata-se da terra da abundância, um lugar na Idade Média onde os sonhos e façanhas se tornam reais e que os desejos seriam instantaneamente gratificados.
É um local em que não havia trabalho, o alimento era abundante, as lojas ofereciam seus produtos de graça, casas eram feitas de cevadas ou doces, o sexo podia ser obtido livremente, o clima sempre era agradável, o vinho nunca terminava e todos permaneciam jovens para sempre. Vivia-se entre os rios de vinho e leite, colinas de queijo (aliás, o queijo chovia do céu) e leitões assados que ostentavam uma faca espetada no lombo estavam por todo canto.
O autor deste país das maravilhas, não é conhecido, mas cerca de duzentos versos octossílabos compõe O Conto de Cocanha, que claro, mexe com a imaginação e já foi retratado em pinturas e filmes, além de ser um dos símbolos da cultura hippie nos anos finais da década de 60.
Um doce Brasil
(ou, o lugar de onde os doces de todo o mundo se encontram e se transformam)
Cozinhar é como tecer um delicado manto de aromas, cores, sabores, texturas. Um manto divino que se deitará sobre o paladar de alguém sempre especial. E foi devorando cada novo pedaço da história de seus imigrantes, que os povos que constituem o Brasil criaram ou, saboreando o melhor de reinventar, transformaram os doces deste país em referências culinárias.
Dos índios vieram as tapiocas, cuscus, sagus; dos europeus vieram os bolos, tortas, pães e caramelos; dos africanos, as queijadinhas, cocadas e cremes; dos orientais as bananadas, compotas e balas e a união de todas estas culturas tornou nossos doces mais açucarados que o da maioria dos lugares. Trouxe às nossas frutas a função de rechear outras massas. Misturando os doces e receitas surgiram o brigadeiro, o quindim, o doce de leite, o bolo de rolo, o curau, a pamonha, o pé de moleque, paçoca, goiabada, rapadura e tantos outros que alegram o nosso paladar.

Tá com água na boca?! Então, vem provar!

Author: Netto

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