Conheça o enredo da Bohêmios para 2017

A Bohêmio Samba Club, co-campeã de 2016, irá apresentar seu samba para 2017 amanhã, 1º de Abril. O samba, seguindo o enredo, “A Bohêmios Manda Nudes Pra Você”, foi encomendado. Confira a sinopse.

 

A BOHÊMIOS MANDA NUDES PRA VOCÊ

JUSTIFICATIVA

“A maioria das pessoas não são nada e são considerados nada até que tenha se vestido de convicções gerais e opiniões públicas. A roupa faz as pessoas. A pessoa excepcional, no entanto, faz a roupa.”

Friedrich Nietzsche

 

Todo mundo nasceu nu. E quem há de duvidar disso? Se nem as sagradas escrituras duvidam, não seremos nós que vamos questionar, vamos, sim, aproveitar…

Com esse espírito leve e jocoso, ainda da comemoração do título do carnaval passado, a Bohêmios quer despir-se de todo julgamento e entregar-se ao prazer de brincar o carnaval, livre, leve, solta, sem amarras, estimulando a naturalização da nudez. Se desde o período pré-descobrimento, a nudez imperava pelas nativas terras brasileiras, nosso enredo canta, de uma forma crítica e divertida, que o Brasil é um país pelado por natureza. Desde aquela época, passando por cada período histórico-cultural, além de momentos em que a nudez foi destaque ou tabu, esta será despida e revelada ao grande público, até os dias atuais, terminando, claro, em um grande carnaval, com todo mundo nu! Então, dispa-se de pudores, caretices ou hipocrisia e caia na folia com a nossa escola!

 

SINOPSE

1 – DA TABA AO TABU, O “COBRIMENTO” DO BRASIL

Basta uma breve espiada pelas fechaduras do tempo, para constatar a natureza nua de nossa nação. O índio vivia nu… Nosso primeiro habitante, dono da terra por direito, aqui gozava do direito de despido ficar. Estar nu era simplesmente a mais pura manifestação de sua natureza. Ainda mais sob a ardência do calor nesse imenso país tropical.

Assim, despidos, os nativos viveram por aqui durante muito tempo, até a fatídica chegada de um estranho visitante, recoberto por uma carapaça ainda mais esquisita: camadas e camadas de tecidos que o envolvia… O contraste de culturas era completo: de um lado, os desnudos guerreiros da pele bronzeada; do outro, os bravos navegantes, sufocados em suas vestimentas. O resultado dessa união, todos nós já sabemos: nosso índio foi, então, vestido!

 

2 – NO “TEATRO” DAS CONVENIÊNCIAS, PELADO SÓ SE FOR ANJO!

O colonizador tentava seguir os padrões de comportamento portugueses, vigiando não só os recursos da abastada terra, mas também o povo que aqui fez morada. Agora, inteiramente cobertos, nativos vestidos, não só de roupas, mas de costumes, de crenças, de culpas, de pudores, de pecados e de muita hipocrisia, as principais peças de seu vestuário cultural.

Os tais fidalgos, como eram chamados, acreditavam fazer daqui um pedaço de Portugal. Procuravam imitar todas as modas e costumes europeus, para não fazerem feio. Andar pelado? Nem pensar! É coisa de selvagem! Não se despiam nem mesmo para tomar banho. Apenas aos anjinhos das igrejas ficou reservado o direito de estar nu.

 

3 – A ENCANTADORA DE SERPENTES

O nu, em todas as suas variáveis, ainda era considerado espantoso, despudorado. A sociedade continuava a seguir a dura batuta da moral religiosa.

O panorama histórico-cultural levava a se perguntar o que tanto há para se esconder debaixo dos panos, nos corpos alheios? Para as mulheres, uma curiosidade contínua, não tinham liberdade sexual. Para os homens, o patriarcado lhes assegurava mais liberdades. Dessa maneira, podiam frequentar os cabarés e as casas de tolerância. Os mais endinheirados ainda tinham acesso às ilustrações e fotografias de “artistas francesas” em trajes um tanto despojados…

No teatro de revista, as vedetes se apresentavam seminuas em espetáculos coreografados, repletos de luxo e glamour. Foi justamente no teatro de revista que despontou a dançarina Dora Vivacqua, mais conhecida como Luz Del Fuego, que escandalizou todo o país, uma vez que em suas exibições, dançava inteiramente despida, envolvida por suas duas jiboias de estimação.

Considerada precursora do naturismo no Brasil, Luz Del Fuego recebeu, em concessão, a “Ilha do Sol” e fundou o Clube Naturalista Brasileiro. A primeira área reservada ao naturismo no país. Tornou-se atração turística, trazendo naturistas e curiosos de vários lugares do Brasil e do mundo, para desfrutarem da liberdade que só o nu proporciona.

 

4 – NU, CÂMERA, AÇÃO!

Dos anos 1970 a meados da década de 1980, o cinema nacional viveu uma de suas fases de maior popularidade, com o gênero chamado “pornochanchada”, que unia as chanchadas, comédia de costumes, ao pornô, com constantes cenas de nudez. O apelo erótico e sexual, juntamente com as questões do cotidiano popular, resultou num grande sucesso de público, principalmente o masculino.

A censura da ditadura militar não impedia sua circulação, uma vez que via nos filmes uma forma de entreter o público e manter a população distante do pensamento crítico e das questões mais sérias do país.

Assim, os filmes desse período liberam a nudez e todos os gestos caricatos que a envolvem. A difusão desses filmes veio contribuir para uma forma mais branda de lidar com o tema. Massificou na mente de várias gerações, a beleza da nudez em filmes, que abriram espaço para que outras produções viessem a fazer o mesmo, como séries, novelas e minisséries, rendendo também outros grandes sucessos.

 

5 – MANDA NUDES!

O sucesso que astros e estrelas tiveram em filmes e telenovelas impulsionou outro grande mercado do nu, o das revistas eróticas. A curiosidade do público em ver determinadas “celebridades” despidas ditava as capas, e que, de acordo com a importância do fotografado, esgotavam rapidamente nas bancas.

No campo televisivo, uma série de programas que exploraram a nudez em busca da audiência. De maneira direta ou indireta, as câmeras aproveitam qualquer oportunidade para focar a imagem nas partes íntimas. Desta forma, a nudez foi banalizada diante da atual cultura do excesso e a erotização dos temas cotidianos.

As redes sociais facilitaram as trocas de informações. Assim, potencializaram-se a curiosa troca de fotos íntimas entre parceiros ou desconhecidos, fenômeno apelidado de “mandar nudes”, antes de um encontro, ou mesmo uma brincadeira entre casais para atiçar a relação. Porém, perante o mínimo descuido, famosos e anônimos têm sua intimidade em fotos ou vídeos vazada e exposta para toda a rede. E, mesmo tentando proibir a divulgação dos conteúdos, acaba sendo inútil, pois o estrago já está feito.

 

6 – É MELHOR NUDEZ, DO QUE NO NOSSO!

Enfim, é carnaval! A explosão da vida. É o momento de esquecer as velhas proibições, transgredir as regras sociais e entrar no clima de festa! Com a liberdade de quem está nu!

No desfile das escolas de samba, nudez é tratada com naturalidade. O maior espetáculo da Terra expõe para o mundo a beleza de corpos desnudos, seja no chão ou sobre carros alegóricos. Vantagens que só a permissividade carnavalesca oferece, e que algumas figuras souberam desfrutar como ninguém. Causaram burburinhos e chamaram a atenção de todos, tornando-se verdadeiros mitos dentro da festa, eternizando a imagem de seus corpos nas mentes foliãs.

É carnaval! Apesar dos prejulgamentos, o nu é natural, e deve sempre ser lembrado como tal. Nascemos todos nus! E estar despido não deveria representar obscenidade, tampouco ofensa!

Assim, a Bohêmios Samba Club convida a todos para se despirem conosco, nessa verdadeira apoteose da nudez! Para que o carnaval nos sirva de exemplo de naturalização do nu em todos os dias do ano! Porque onde “tem bumbum de fora pra chuchu”, “todo mundo pelado, é beleza pura”! Então, melhor nudez, do que no nosso!!

Author: Carnaval Virtual

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