Conheça o enredo do ESV Bambas de Ouro para o Carnaval 2018

BAMBAS DE OURO
A FARRA DO BOI QUE AVOA

 

Justificativa

 

Vamos contar um causo perdido nos confins da história, onde o Conde Maurício de Nassau, resolveu tirar a própria vaca do brejo. Nesse conto da história brasileira, nosso enredo se propõe a desmistificar a ideia de um Brasil holandês ser melhor que um Brasil português. O enredo defende que a lógica da colonização se deu com o colonizador entrando com a cana e o colonizado movendo a moenda. Nosso povo precisa deixar de acreditar em bois voadores e exigir um Brasil melhor para todos. O episódio da história que contaremos foi descrito por Manuel Calado no seu “O Valeroso Lucideno”.

 

“Quem foi, quem foi
Que falou no boi voador
Manda prender esse boi
Seja esse boi o que for

O boi ainda dá bode
Qual é a do boi que revoa
Boi realmente não pode
Voar à toa

É fora, é fora, é fora
É fora da lei, é fora do ar
É fora, é fora, é fora
Segura esse boi
Proibido voar”
Música Boi voador não pode de Chico Buarque de Hollanda

Inspirado em um vídeo do professor e historiador Eduardo Bueno.

 

Setor 1: A cidade Maurícia e o excêntrico Nassau: o holandês que não era holandês, em um Brasil holandês.

Um cabra nato, Mauricio de Nassau nasceu em Dillemburg, na Alemanha em 1604, ficou famoso pela sua atuação como governante da colônia Holandesa nas terras tupiniquins. Recife o recebe, como um excêntrico príncipe, que na verdade nunca o fora, para governar o próspero nordeste brasileiro. Já no embarque para o Brasil, Nassau recebe seu primeiro tapa, em vez da armada prometida de trinta e duas velas e sete mil homens de armas, a Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais lhe entregou apenas doze navios com dois mil e setecentos homens, que tinham como objetivo conquistar as terras nordestinas. A primeira tentativa de invasão ocorreu em Salvador, mas foi frustrada, pois, os portugueses haviam fechado a cidade a sete portas, porque já estavam esperando a chegada dos holandeses. Assim partiu Nassau ao nosso Recife, onde conquistou Pernambuco, construindo alí seu doce império do mel da cana de açúcar. As delícias de Pernambuco adoçaram a boca da companhia das Índias, se mesclando nesse chão cabra da peste, sua cultura e as origens nordestinas. A excentricidade de Nassau era tamanha que ele mandou fazer 19 retratos de si próprio, acompanhado de uma legião de escritores que o seguia, para escrever suas peripécias e feitos. Mas nem todos queriam contar como Nassau era heróico. Esse causo que vou contar agora foi escrito por um desses escritores, que chamava Nassau de “O Valeroso Lucideno”.
Eis que na ilha de Santo Antônio, Nassau construiu a cidade de Maurícia, com um maravilhoso palácio, e ao seu entorno uma cidade toda planejada. Nessa terra havia muita prosperidade, quem visitava ficava ‘abestalhado’ com suas construções. As ruas tinham escoamento de esgoto, havia um observatório astronômico, bem como, um jardim botânico e um jardim zoológico. As ruas eram adornadas por mamoeiros e mangueiras. Nesse lugar era proibido lixo pela cidade, um verdadeiro exemplo mundial de cidade planejada.

 

Setor 2: A ponte da discórdia moral.

Porém, sua próspera cidade ficava em uma ilha. As pessoas para irem lá precisavam de barcos para a travessia. Claro que da maneira mais inteligente possível, Nassau resolve mandar construir uma ponte, onde ligaria Recife a sua majestosa Maurícia. Uma licitação foi lançada para ver quem faria tal ponte. Eis que Baltazar Fonseca e sua empreiteira entram na história para construir tal monumento. Como no Brasil, empreitada boa é aquela que nunca fica pronta, a obra estava muito atrasada e já se havia gasto muito mais do que se havia planejado inicialmente. A consequência foi de se criar assim um rebuliço entre Nassau e a Companhia das Índias, que financiavam todo projeto. O desgaste já era grande, pois Nassau gostava de investir o dinheiro que obtinha do lucro da companhia, em suas pesquisas científicas e artes. Contudo, os investidores já estavam de saco cheio desse negócio de pesquisa, porque não dava lucro aos bolsos. Então os investidores começaram a debochar de Nassau, indagando que a tal ponte se tornou inútil e não ficaria pronta nunca. Nassau então tirou dinheiro do seu próprio bolso e resolveu finalizar a bendita ponte, por puro orgulho e para provar que ela poderia sim ficar pronta. Eis a formosa cidade de Nassau, ligada a Recife, por uma vigorosa e deslumbrante ponte, que agora não precisaria mais de barcos para se chegar a cidade Maurícia.

 

Setor 3 – Como ninguém é bobo, o boi vai voar.

Maurício de Nassau, com isso, esvaziou os bolsos para que a ponte ali estivesse. Nada mais justo que dar um jeito de recuperar esse dinheiro, matutou as suas idéias e de repente manda avisar o povo, que no dia 24 de fevereiro de 1644, um domingo, UM BOI VAI VOAR. “Mas como assim? Boi não avoa”, pensou o povo. Nassau então prometeu: “se quiserem ver com os próprios olhos o boi voar, deverão cruzar a ponte até Maurícia e pagar 2 peças de florim para entrar e duas peças de florim para voltar. Não serão aceita pessoas de barco, devem apenas vir pela ponte”. A verdade é que todos duvidaram da façanha de um boi voador. “Isso é impossível”, pensou o povo. Pois bem, Nassau prometeu o dinheiro de volta se o tal boi não voasse.
Na cidade do Recife havia um boi muito manso, que perambulava pelas ruas, e pertencia a Melchior Álvares, um comerciante local. O boi surpreendente subia escadas sem problemas, e essa foi a deixa de Nassau. O boi de Melchior Álvares seria o boi voador.
Uma grande festa foi preparada para tal feito, todos queriam ver o tal boi voador. Mas o que o povo queria mesmo era rir de Nassau por um feito impossível, pois todos tinham certeza que não haveria um boi voando. Ao final da tarde, todo povo já havia cruzado a ponte, eis que, aparece o boi de Melchior, todo enfeitado, cruzando as ruas de Maurícia, para que o povo pudesse vê-lo antes do voo. Então Nassau entrou com o boi no palácio e o apresentou pela última vez na varanda, para que todos pudessem ver. O boi agora irá se recolher em seu camarim, para se preparar para o voo. O que ninguém sabia era que no camarim, já se havia preparado uma réplica do boi, forrada de folhas e todo enfeitado para enganar os olhos, com a diferença da réplica ser mais leve. Então, a réplica foi içada em um cordel previamente preparado, e eis que o fato inusitado acontece.

 

O BOI VOOU DE VERDADE!

Tá, não foi um boi de verdade, e nem estava realmente voando, mas o fato foi que muita gente acreditou no que se passava. Aos olhos da noite parecia mesmo que o tal boi avoava. Foi uma euforia por toda a cidade, o boi realmente estava voando, os mais céticos claro que não acreditavam no que viam, mas a verdade é que a maioria adorou a ideia de nassau.
Depois, Nassau partiu de volta a Europa, e a vaca foi para o brejo. O doce sabor holandês amargou-se com a tomada de Recife pela coroa portuguesa. O seu legado foi deixado para nosso patrimônio histórico, e a certeza de que um brasil holandês seria muito melhor, ficou no lamaçal do brejo da história.

 

Setor 4: Tem muito boi pra voar ainda.

Essa saga, pioneira de Nassau, ficou conhecido por ser o primeiro pedágio do Brasil. Hoje, os políticos inventam suas artimanhas para fazer seus bois voarem e continuarem enganando nosso povo, que se maravilha em ver os voos, aplaudindo de pé a enganação. O tão sonhado Brasil Holandês, talvez teria sido tão corrupto quanto o Brasil português, pois, o povo que aceita ser enganado é tratado da mesma forma, seja por holandês, seja por português. O colonizador entra com a cana na moenda do colonizado.
Mas, sonhamos com um Brasil longe de mentiras. Onde o povo é valorizado e educado para sua prosperidade, dando fim a farra do boi voador, e criando a igualdade social tão sonhada por nós, os brasileiros. Manda prender esse boi voador. O povo acordou.

 

Texto de Mauricio Lanner e Mauricio Vianna
Revisão de Murilo Bernardino Polato

Author: Netto

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