Conheça o enredo do GRCESV Ponte Aérea para o Carnaval 2018

PONTE AÉREA
É por amor a essa pátria Brasil que a gente segue em fileira…

Justificativa:
A Ponte Aérea apresenta na avenida a questão histórica da terra no Brasil, resgatando as batalhas, os instrumentos de regulação e repressão que transformaram o bem natural em objeto de cobiça e propriedade. Mostrando as revoltas e movimentos populares, erguendo a bandeira das lutas do campo e reafirmando os princípios e valores do movimento dos trabalhadores sem terra. Semeia a bravura desse povo, embalando-se pela poesia dos hinos e marchas, sambas e enredos que fizeram ressoar as vozes sem terra. É preciso lutar pelo nosso chão, com a enxada na mão e a ternura no coração.

Sinopse:

Vem! Teçamos a nossa liberdade! Braços fortes que rasgam o chão. Sob a sombra da valentia, desfraldemos a nossa rebeldia. Plantemos nesta terra como irmãos!*

Chão onde brota a vida, que sustenta a luta. Desde sempre em disputa entre nativo e o explorador. Chão que assistiu a sangria, o saque, a covardia com a natureza e com quem a cultivou.

Terra dividida por português, loteada em Capitania para semear sua hegemonia e colonizar seu poder. Terra “concedida” em Sesmaria, para estimular o que se produzia e a riqueza florescer.

Nêgo vai lavorar, lavorar, lavorar
Nêgo vai lavorar, lavorar…**

Rincão de índio virou também solo de negro, que povoava cativeiros e irrigava a plantação com a lágrima açoitada, valentia na enxada, mas a terra por eles semeada pra eles não poderia ser torrão. Nem do rendeiro, do posseiro que lutava contra o sesmeiro que lucrava e na Colônia era reconhecido.

Cresceram disputas e os transtornos pra Coroa, que suspendeu as concessões e inaugurou uma nova era. “Mercado do chão”, “comércio de áreas”, surgem latifúndios. O solo agora é moeda regido por “Lei de terra”.

Abolia-se a escravatura e os direitos, se forjava liberdade subjulgando ao burguês a flagelada negritude. Que não tinha terra, emprego ou dignidade, mas não lhe faltava vontade muito menos atitude de lutar por justiça e a construção de outra sociedade, ao lado de outros miseráveis que se espalhavam pelo país.

Surgiram revoltas e a esperança reinava de novo. Canudos, Contextado, Porecatu e Formoso. Tantas guerrilhas movidas por gente diferente, mas com uma missão em mente: ter um chão pra subsistir. Foram oprimidas, reprimidas e combatidas, foram base para que, anos depois, as ligas camponesas pudessem existir.

Só sai, sai, sai. Só sai reforma agrária com a aliança camponesa e operaria!

A mobilização política ganhou corpo. Pastorais e comunistas, lavradores e operários. Com tantas vozes formando o coro, o sonho da reforma agrária apresentava outro cenário. Mas o golpe foi instalado e as conquistas reduzidas. A repressão ampliada e era preciso um novo ponto de vista.

Lutando contra o Estatuto da Terra, propriedades foram invadidas. Trabalhadores se reuniram e formaram a “encruzilhada natalina”. A “romaria” marcava a batalha e semeava o caminho pra vitória. O primeiro congresso foi organizado para reconstruir a história: Movimento dos Trabalhadores Sem Terra fundado. Iniciava-se a trajetória.

O que não deu, só o grande Deus dará
Vem colher um futuro melhor… ***

Marginal e reprimido, combatido e temido. Ano a ano na luta, dando voz a quem não tem. E enquanto uma nova sociedade não vem, povo sem terra fez a guerra por justiça, visto que não tem preguiça de pegar cabo de foice, também cabo de enxada pra poder fazer roçado e o Brasil se alimentar. Com sacrifício debaixo da lona preta inimigo fez careta, mas o povo atravessou rompendo cercas que cercam a filosofia de ter paz e harmonia para quem planta o amor.****

Milho na palha, coração cheio de amor. A Ordem é ninguém passar fome, progresso é povo feliz. Hoje erguemos nossa bandeira, pois é por amor a essa pátria Brasil que a gente segue em fileira…*****

Enredo: Guilherme Estevão e Juanjo Cabello
Texto e pesquisa: Guilherme Estevão

*Trecho adaptado do hino do MST
**Trecho do samba da Nenê de Vila Matilde 2002
*** Trecho do samba da Imperiais do Samba 2004
****Adaptação da letra de Floriô de Chico Cesar
***** Trecho de Ordem e Progresso de Beth Carvalho

Author: Netto

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