Conheça o enredo do GRESV Curral das Éguas para o Carnaval 2018

CURRAL DAS ÉGUAS
Nfa Mansa! O apogeu mandiga no Império Mali

JUSTIFICATIVA

Em tempos de debates raciais, econômicos, sociais e religiosos, o Curral vem trazer à luz um reino africano bastião da ciência e de vastas riquezas: o Império Mali. Assim, pretendemos desmitificar a visão eurocêntrica sobre a idade média, conhecida como idade das trevas devido à deterioração cultural e econômica do velho continente. Issoporque o mesmo período histórico foi de pujança para dezenas de povos africanos. Portanto, tal qual Ki Zerbo, historiador de Burkina Faso, preferimos nos referir a esta época como os “grandes séculos” do continente mãe. Queremos nem que seja por um desfile superar as mazelas causadas até hoje pela colonização para lembrar o apogeu do Mali e celebrar o legado deixado pelos mandingas que sincretizando o islã com o animismo construíram um império de relevância cultural, econômica e intelectual para o seu tempo.

SINOPSE

Aonde o sol se põe tingindo o céu num lindo tom alaranjado refletindo o barro em que os guerreiros pisam…

O despertar do leão

Os griots contam e recontam a epopeia de Sundiata Keita através dos séculos. Ainda hoje, sua história ecoa nos centros de tradições orais da África Sudanesa, entre o clima árido do Saara e a savana. E foi lá, onde o Níger faz a curva, que o rei leão cumpriu a profecia. Depois de se exilar durante a infância e a adolescência, ele retornou à sua terra para livrar os mandigas da opressão de Kanté, rei e feiticeiro sosso. Na batalha de Kirina, Sundiata expulsou o invasor e libertou seu povo com um exército de caçadores. Surgia então o Império Mali.

Afasta, afasta, deixa passar
O leão caminhou
Antílopes, escondei-vos
Afastai-vos de seu caminho

Proclamado mansa, senhor do tempo e da chuva, o leão também garantiu a hegemonia da dinastia dos Keita e a união dos clãs mandingas. Nobres de turbantes da elite mulçumana, nobres de aljava da elite militar, ferreiros, sapateiros…todos juntos sob o comando de Sundiata a prosperar. Com o controle do rio, foi possível escoar a produção para o sul. A posição privilegiada no Sahel também facilitou o acesso às rotas comerciais do Saara, favorecendo o desenvolvimento do império

Um Império de Riquezas

Do algodão cultivado no clima seco do norte se retirava a fibra que tecia tanto as túnicas dos nobres quanto as tangas dos menos afortunados. Tecidos que também eram comercializados em caravanas ao sul. Ainda na aridez de Tagaza, nos deparamos com a imensidão branca das minas de sal. Produto essencial para a conservação dos alimentos, ele foi moeda de troca fundamental com os povos do sul. Deles, conseguia-se a noz-de-cola, utilizada pelos curandeiros para aliviar a dor e sanar os males dos nativos.

O cobre, tão cobiçado pelos reinos fronteiriços, chegou a ser mais valorizado que o ouro. Ouro…metal mais abundante no império. Ouro que adornava as vestes da corte, armaduras e lanças dos guerreiros. Ouro que fez o nome de Mansa Musa, sobrinho de Sundiata Keita, correr todo o norte da África, o Oriente Médio e o Sul da Europa. Conhecido como o homem mais rico de toda a história, sua fortuna foi estimada em 400 bilhões de dólares. Era tanta riqueza que em sua peregrinação à Meca, ele distribuiu mais de uma tonelada de ouro em pó, principalmente em sua passagem pelo Cairo.

Um povo de muita fé

Desde o início do século XI a elite mandiga era convertida ao islamismo. As festas religiosas islâmicas eram celebradas com grande pompa e as crianças aprendiam o Alcorão. Inclusive, os Keita, fundadores do Mali, acreditam ser descendentes de Dion Bilali, companheiro do Profeta Maomé e primeiro Almuaden da comunidade muçulmana. Mas, apesar de seguir a luz e as revelações de Alá, o povo reconhecia no mansa um poder divino que veio para ser pai, juiz e protetor. O sincretismo se fazia presente com o sagrado do Alcorão e o “profano” dos ritos da natureza que se perpetuaram no Império. Esse cenário favoreceu para o alívio de tensões sociais, visto que não havia conflito religioso.

Bastião do conhecimento

Mansa Musa trouxe do Egito centenas de artesãos, arquitetos, letrados e jurisconsultos versados nas leis corânicas para ensinar e trabalhar no Império. Aproveitando-se da argila abundante, o artesanato e a arquitetura do Mali se fundamentaram na arte em terracota, o barro. Eles habitaram principalmente o norte do reino, em Timbuctu. Para lá também acabaram indo os mandigas que estudaram em Fez, onde hoje é o Marrocos. O intercâmbio favoreceu a construção de madraças, as escolas mulçumanas. Timbuctu também abrigou uma das primeiras universidades do mundo, constituída pelas mesquitas de Sankoré, Djinguereber e Sidi Yahy. Esse cenário ajudou na formação de um acervo de quase 500 mil documentos, entre livros, pergaminhos e manuscritos distribuídos pelas bibliotecas do império. Sendo assim, Timbuctu consagrou o Mali como o centro intelectual do mundo islâmico durante séculos. 

 

 

Author: Netto

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