Conheça o enredo do GRESV Malandros para o Carnaval 2018

MALANDROS
MADAME SATÃ APRESENTA A LAPA BOÊMIA

Ah… Velha Lapa…

Das serestas, cabarés e festas emolduradas pelos lampiões a gás… Ah, Velha Lapa, quantas saudades nos traz… Recanto de belezas e encantos, dos malandros e artistas, das mundanas que conquistam. Da boemia, seu costume principal.

Lapa do prazer, da mistura das cores e raças. Terra do gingado e da alegria. Lapa dos vícios, pecados e paixões. Das virtudes, encantos e amores. Da boemia desenfreada, de malandragem e dos sambistas, dos desordeiros perigosos. Dos bares e cafés, cabarés e cassinos. Onde convivem diferentes tipos cariocas. A própria imagem do Rio de Janeiro.

A Lapa boêmia começa a surgir no fim da década de 1910, com apogeu nos anos 30. É a terra da dualidade. Ela não é boa nem má, mas sim boa e má. Os boêmios estão entre a ingenuidade e a criminalidade. Um estilo de vida duplo e perigoso.

E entre malandros, meretrizes, músicos, intelectuais, vedetes, garçons e outras figuras que compõem o elenco deste bairro, quem nos leva para conhecê-lo é João Francisco dos Santos, mais conhecido como Madame Satã.

Negro, homossexual, pobre e marginalizado. João trabalhou como travesti no teatro para se tornar artista, mas não deixou de lado a malandragem e ganhou o nome de Madame Satã. Falar da Lapa é falar de Madame Satã. O bairro fez parte de sua trajetória desde sua chegada de Pernambuco. Quem melhor para nos mostrar a lapa boêmia?

E lá vamos nós com o malandro Satã, que começa nos tornando familiares às diversas figuras que frequentam o bairro.

A Lapa foi marcada pelo misto de homens e mulheres, trabalhando ou se divertindo, o que lhe garantiu o seu tom peculiar. Para traçar o seu perfil, é necessário imaginar a sua vida noturna notavelmente boêmia. A atmosfera humana era descrita como fascinante, e a muitos visitantes agradava ficar a observar, entre uma cerveja e outra, a rotina dos notívagos e boêmios, marinheiros, letrados, prostitutas e, sobretudo, da malandragem.

Ah, a malandragem! Madame Satã nos apresenta a seus colegas malandros. Colegas, porque o respeito entre os malandros não quer dizer amizade. Afinal, não se pode confiar. Malandro de verdade é aquele que acompanha as serenatas, frequenta os botequins e não corre de briga, nem contra a polícia. É aquele que impõe respeito e medo. E não entrega o outro. sempre a sua navalha, a “pastorinha”.

Imortalizado nos textos e na música. Estigmatizados e perseguidos pela polícia. A figura do malandro na lapa se torna um mito. Sempre vestido com aprumo, com seu chapéu panamá. Viviam na gafieira, nas rodas de samba ou na capoeira. Para sustentar seu estilo de vida, as vezes serviam de Leões de chácara nos cabarés e pensões. Mas a vida boêmia não se alia ao trabalho. “Trabalhar? Trabalhar pra quê? Se eu trabalhar eu vou morrer”. E assim seguimos pelos becos sob a luz da lua.

Ao lado dos seus colegas malandros, Satã nos leva para conhecer o roteiro dos mais famosos estabelecimentos da Lapa: Os cabarés.

Os bares e cabarés tomaram o lugar dos clubes refinados da Lapa do início do século. Estas casas eram simples, mas sempre estavam cheias. Lares da diversão barata, onde se misturavam os malandros, os intelectuais e mesmo os curiosos, fascinados pelos tipos caricatos que frequentavam o lugar.

Somos recebidos pelo cabaretier, figura de elegância ímpar em seu smoking surrado, que se encarrega rapidamente de apresentar o show e animar o ambiente como apenas uma pessoa estafada da exaustiva rotina poderia fazer. Chegam as deslumbrantes dançarinas, mulheres belas e escolhidas a dedo, alguns poderiam dizer. Em seu show, elas iluminam a noite, sem jamais deixarem transparecer o sofrimento de quem ganha a vida em um trabalho cansativo na madrugada.

Por fim, Satã e os malandros nos levam a conhecer o som da malandragem que embala as gafieiras. Vamos conhecer o samba que cresceu na lapa.

A Lapa é ponto de encontro para a composição e troca de sambas. Reúnem-se os compositores nos cafés e esquinas, com vista para os arcos. As letras de samba são documentários falados e cantados do cotidiano e, se os morros representam a raiz do sambista, o asfalto representa seu estilo de vida. O samba é taxado de coisa de preto e de pobre. Tal como a Lapa. Talvez por isso que eles sempre tenham se dado tão bem. Assim, o bairro se torna sua fonte de inspiração.

Em uma grande roda, encontramos Noel, Geraldo, Ismael, Nelson, Herivelto e Benedito. Juntam-se Satã e os demais malandros a batucar e festejar. Wilson Batista começa a cantar “Foi na Lapa que eu nasci / Foi na Lapa que eu aprendi a ler / Foi na lapa que eu cresci / e na Lapa eu quero morrer”. O samba ecoa pelas vielas madrugada adentro. Madame Satã, então coloca o salto alto e, travestido, começa a sambar, respondendo aos olhares tortos com um sarcástico “Eu gosto de homem, mas sou macho!”

A GRESV Malandros saúda a velha lapa boêmia! Salve a Lapa de Satã, que permanece viva em nossa memória e em nosso carnaval!

“Enquanto eu for vivo, a Lapa não morrerá!”, assim disse Satã.

 

REFERÊNCIA

VELASQUES, M.C.C. A Lapa Boêmia: um Estudo da Identidade Carioca. Dissertação (Mestrado em História Social). Faculdade de História. Universidade Federal Fluminense. 129p. 1994.

Author: Netto

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