Conheça o enredo do GRESV Ungidas para o Carnaval 2018

GRESV UNGIDAS
MARCHA DA CONSCIÊNCIA BRANCA: E SE FOSSE COM VOCÊ?

Era o começo de novos tempos. Na próspera e desenvolvida África, os Reinos de Ketu, Ashanti, Jêje, Nagô, Songhay e Angola se fundiram formando o Reino Unido Afro-ancestral.

Um império poderoso que, depois de descobrir que havia rotas marítimas para as Índias, havia também uma terra “inexplorada” para além-oceano.

Essa terra era justamente Pindorama.

E quando os navegantes africanos, liderados por Aboubakari V, chegaram no novo continente e lá acharam um espaço para impor uma colônia

Os nativos de Pindorama, os Tupi-Guarany, não gostaram da invasão de suas terras, porém pouco puderam fazer frente o poderio dos navegadores.

E assim, de Terra de São Ramsés para Negril, o nome da terra que tardiamente viraria uma referência na América.

De São Ramsés para Negril, de Negril  para Brasil, e, com um restante de escravidão indígena, houve o ciclo do Pau-Brasil.

Porém, a insubmissão e a alta mortalidade dos nativos praticamente os dizimaram, e os africanos precisavam de povos servis para trabalharem.

 

Enquanto isso, a miserável Europa, mergulhada ainda na Idade Média, entre tantas guerras feudais de semi-reinos, milhares de prisioneiros e prisioneiras são vendidos como escravos para os africanos.

E começaram a vir para as vilas brasileiras, diretamente de Portugal, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Alemanha, Bélgica e Itália, entre outras nações menores, brancos para serem vendidos como mercadoria.

 

Os navios que traziam esses escravos, chamados de navios-branqueiros, e conhecidos pela total insalubridade, foram batizados de mausoleiros.

E assim, os pobres brancos, despidos de suas identidades, de suas nacionalidades, direitos, liberdades, incapazes de lutarem pelas suas vidas, são legados a regimes torturantes

Alemão? Francês? Português? É tudo branco! Tudo queijo azedo! Peludos, descoloridos, enrugados e fracos! Que diferença faz? Não aguentam meia hora de sol sem definhar! Não são dignos como os africanos!

E essas crendices de Messias que morreu e três dias depois ressuscitou? Balela! Tem que banir esse tipo de feitiçaria primitiva! Nas terras brasileiras só se pratica as verdadeiras palavras divinas dos espíritos ancestrais naturais, e o Islamismo e o Judaísmo são tolerados. O restante é do demônio!

E assim, o cristianismo foi completamente suprimido.

Os brancos foram despidos de tudo. Dignidade, identidade, nacionalidade, nome e até mesmo de suas crenças.

Como honrar seus ancestrais Henry, Manoel, Pablo, Richard, Sigmund, Giordano, se agora eram obrigados a usar nomes africanos como Akin, Amir, Daren, Faraji, Malik, Talib? E as matriarcas  que antes carregavam nomes nobres como Beatriz, Alice, Isabella, Chloe, Hannah, Alessandra,  foram rebatizadas como Anaya, Ashia,  Jamila, Latifa, Makeda, Núbia? Nomes europeus eram desonrosos para uma terra onde os orisàs, voduns, inkissis e a luz de Allah passaram a ser tão sagrados.

Sem absolutamente nada para fazerem, restou aos escravos europeus cultivarem a cana de açúcar em Pernambuco, no Rio de Janeiro e em São Xangô.

Com o ciclo do açúcar acabando, a descoberta do ouro nas Minas Gerais e das pedras preciosas em Goiás e Mato Grosso intensificou ainda mais o tráfico branqueiro, com milhões de europeus saindo de suas terras nas condições mais degradantes de transporte, para terem condições ainda piores de tratamento em ambientes completamente desprovidos de humanidade. Morriam tanto quanto chegavam novos, em um ciclo vicioso impressionante.

Do sangue branco, surgiu o Barroco Brasileiro, em terreiros suntuosos cultuando Orixás, Voduns, Nkissis e Egunguns, bem como mesquitas extremamente luxuosas entalhadas em ouro iluminaram as cidades de Ouro Preto, Oxalá Salvador e Rio de Janeiro.

O Ouro esgotou, e da Abissínia veio o grão-café para alimentar os cofres do Reino Afro-ancestral. Os brancos saíram das minas e voltaram para as lavouras, colherem, peneirarem, secarem e moerem toneladas de grãos de um ouro tão negro e tão poderoso quanto os suseranos coloniais.

Após 300 anos de colonização, o ciclo do ouro se esgotando e guerras assolando o território africano, quando o Império Afro-ancestral acabou sendo invadido pelos árabes, a família real africana chegou no Brasil, fugindo da guerra.

O Obá Sangò VI chegou com sua esposa, Yá Makeda, e o filho Abiodun na cidade de São Odé do Rio de Janeiro. Decidido a transformar a incipiente cidade em uma capital digna de um Império africano, Obà Sangò promove diversas melhorias urbanísticas na cidade. Os brancos passam a ser tratado com menos tirania, e os brancos-forros começam a virar uma realidade.

Com isso, o Reino Unido Afro-Ancestral passa a ser Reino Unido Afro-Brasileiro.

Após a derrota dos árabes pelos Etíopes, Egípcios, Sudaneses e Berberes, Obá Sangò deixa seu filho para governar o Brasil. Porém, Abiodun resolve dar ao Brasil a independência da África: nas margens do Rio Ipiranga, com um exército de brancos no front, o Brasil se torna o Império Brasileiro.

A nova nação decidiu intensificar sua fama de “celeiro do mundo”.  Mas, com as guerras civis do período Regencial, quando Abiodun abdica do trono, Abiodun II assume ainda adolescente e resolve repensar algumas questões escravocratas.

Primeiro a lei Amenófis IV, proíbe o tráfico branqueiro no Brasil. A lei do Ikun Livre dava aos brancos o direito de nascerem sem a condição de escravos. Por fim, a Princesa Nayra assinou a Lei Escúrea, que abolia de vez a escravidão europeia.

Com o fim da Monarquia, todas as evoluções em prol da liberdade dos brancos europeus estariam em xeque. Após o golpe militar que gerou a proclamação da república, as oligarquias começaram a traçar a perpetuação do abismo social entre os negros, dominantes da sociedade, e os brancos, agora libertos.

No século XX, o Cristianismo passou a ser tolerado, porém continuou sendo extremamente perseguido. Músicas comuns das periferias brancas, cortiços e favelas, como a Polca, a Valsa e a Ópera eram estritamente proibidos. Serestas? Serenatas? Coisa de vagabundo! Vadiar não é uma opção em um país que anseia no crescimento!

Quando o Brasil caminhava para uma diminuição de desigualdades sociais, no início da década de 60, os coronéis oligarcas não aceitaram a reforma agrária promovida pelo presidente João Elegibô. O mesmo foi deposto e foi instaurado uma ditadura militar no país.

Nos 20 anos de ditadura, os 800 negros de classe média e alta viraram notícia de seus desaparecimentos ou mortes. Mas as dezenas de milhares de brancos periféricos que foram cruelmente torturados e mortos jamais foi sequer contabilizada.

As favelas cresceram vertiginosamente, juntamente com a desigualdade social. Quem era a suprema maioria dos miseráveis? Sim! Os brancos!

E os brancos, marginalizados, começaram a impor seus estilos paralelos. O ballet, a ópera e a MPB passaram a ser apreciados pelos negros, sempre tentando dar um jeito de se apropriarem culturalmente, gourmetizarem os estilos e tirar o protagonismo dos brancos.

O Rock então era duramente marginalizado. Um estilo cheio de músicas que exaltavam sexo, drogas, violência, entupiam as madrugadas das favelas das grandes cidades.

E, mesmo com a tolerância ao Catolicismo, o Protestantismo continuou sendo absolutamente perseguido.  Era extremamente comum ver uma Assembleia de Deus, uma Igreja Universal ou uma Igreja Batista sendo depredada, queimada e vandalizada em nome de Olorum.

E quando o congresso sancionou a lei anti-racismo? Os discursos mudaram muito, né?

Os negros não aceitaram muito bem a proibição de não poderem mais chamar brancos de leite azedo, palmitão, urso polar, neanderthal, sem serem punidos. “Nada contra os brancos. Tenho até amigos que são. Mas não vou aceitar minha filha casando com esse desbotado”.

Mesmo nos dias de hoje, com as leis, as militâncias e as insistentes iniciativas das comissões dos direitos humanos, o abismo entre os negros opressores e os brancos oprimidos é imenso

Precisou da aprovação de um sistema de cotas para brancos nas universidades. 78% da população carcerária é branca, assim como 94% da população miserável. Apenas 5% dos brancos fazem parte da elite brasileira, e somente 11% dos brancos estão em cargos legislativos e executivos.

Quando isso vai muda?

Pois é, queridas pessoas. Tudo que vocês leram até o presente momento não passa de uma fábula de psicologia do absurdo.  PORÉM, se vocês inverterem as palavras negro com branco, vocês estarão de cara com a realidade horrenda da história do Brasil. O mesmo vale para as manifestações culturais de origem europeia em contrapartida com as de origem africana no Brasil.

O abismo racial no Brasil é uma realidade tão inacreditável, que toda essa fábula escrita não conta metade dos absurdos que pessoas negras passam todos os dias desde quando o primeiro navio negreiro chegou ao Brasil.

Não basta “não ser racista”. É essencial ser ANTI-RACISTA.

Em homenagem a todas as pessoas negras que, na base de muito sangue, suor, lágrimas e sofrimento, conseguiram deixar legados riquíssimos essenciais para a identidade brasileira, a Ungidas exige de todos que leram esse título e não seja uma pessoa negra, reflitam profundamente: E SE FOSSE COM VOCÊ?

Marielle Franco. Presente!

Eduardo Tannús, Murilo Polato e Rafael de Lima

Author: Netto

Share This Post On