Império do Progresso lança sinopse para o Carnaval Virtual 2017

A Império do Progresso, vice-campeã do Grupo Especial do Carnaval Virtual 2016, arregaça as mangas e lança logo e sinopse para seu carnaval 2017. O enredo, de autoria de Diego Araújo (enredista de escolas em diversas cidades brasileiras), celebra o Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, escrito em 1928.

 

Sob o título “Mito, Arte e Cultura de Alma Devoradora”, a Progresso fará uma viagem bem humorada, sob uma perspectiva muito inusitada. A agremiação renovou sua equipe para 2017, com Raphael Soares (carnavalesco em Florianópolis) a cargo dos desenhos e Thatiane Carvalho (intérprete mirim no Rio de Janeiro) à frente do seu microfone.

Conheça aqui o enredo 2017 da Império do Progresso (texto de responsabilidade da agremiação)

 

MITO, ARTE E CULTURA DE ALMA DEVORADORA

Logo do enredo - Império do Progresso 2017

Justificativa

“[…]Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval […]”
Oswald de Andrade

Desde os tempos do deus do trovão, onde todo mundo nasceu nu. Sem pecado, com cocar de pena, urucum e pele morena. Preguiça e antropofagia.

Gente que come gente. Ora, pois! Credo em cruz! Devoradores!E foi assim que nasceu a pátria-mãe gentil. Devorando e sendo devorada. Pindorama. Vera-Cruz. Santa Cruz. Ibirapitanga. Brasil.

Em 2017, o Império do Progresso fará do seu Carnaval um rito de devoração. Celebraremos na Passarela Virtual os 89 anos do “Manifesto Antropofágico” escrito por Oswald de Andrade em 1928, e que tinha como proposta de repensar a dependência cultural do nosso país.

Em essência, esse é um painel carnavalesco que será colorido pelos tons mais pulsantes de brasilidade. É um manifesto de alerta para que se devorem todas as coisas, claro, sem esquecer de nossas raízes.

Somos tupinambás. Modernistas. Povo.

Somos mito, arte e cultura.

Calidoscópio cultural. Estandarte do sanatório. A loucura que permite criar. Escola que devora cultura e faz samba. Pandeiro e tradição. Tamborim e modernidade.
Temos alma devoradora!

Essa é a questão!

 

Sinopse

Essa estória começa assim,
Se é verdade? Não se prenda aos fatos,
Este delírio navega por águas de calmaria…

Buscando os fascínios descritos pelo destemido aventureiro que deixou um “marco” na história do velho mundo, no balanço do oceano, Colombo – mais recusado que cartão de crédito -navegou. Lá se foram. Niña, a virginal. Pinta, a pintosa. Todas “caravelando” com Maria, a santa. Singrando o atlântico, partiram, querendo as gostosuras das Índias.

O anseio do leva e traz tinha lá seus motivos,
Niña queria pôr na receita mais tempero,
Pinta, conhecer o bicho – ou bicha, né- da seda,
Maria, tomar um banho de cheiro,
Afinal, todas estavam de olho na butique dela…

E tudo que encontraram foi o exotismo de um novo mundo. De uma natureza colorida – mas, discreta, não se preocupe – fora do meio do mapa, uh lalá!Com show da mãe d?água – a velha corista dos rios – e o musical das Amazonas – as vedetes das matas – na festa da primavera. Tinha água mineral da juventude, banho de ofurô para o homem virar ouro eos papagaios transformistas.Atraindo a sanha de riqueza, transformando o lugar na sua nova colônia de férias.

Mais para baixo tinha gente de tanga de pena,
O clima esquentou nas cheganças de além-mar,
Os tambores ecoavame as matas balançavam…

Teve troca-troca, ai que loucura! Foram-se os paus e vieram as muambas d?além-mar. Da índia morena descobriram a beleza, querendo cobrir de pecado a sua pureza. O caldeirão ferveu! No menu do Chef Tupinambá tinha sardinha para fome do povo aplacar. O mito virou rito, índio come gente!

Contra toda as ditas verdades universais,
Despindo-se de todas as formas de caretice,
Devorar virou arte na taba modernista…

Que inaugurou o “futurismo endiabrado”, rompendo com todas as correntes tradicionais. Rito do exorcismo da tristeza catequizadora da moral: Aba-Pora-Ú! A comilança cultural reavivou a brasilidade nas veias. O índio modernistadevorou literatura, pintura e música em 7 luas de Carnaval. Caraíba revolucionário, pai do “bárbaro tecnizado”.

No portal das visões delirantes,
Onde a esfinge que tem cabeça de arara e corpo de onça brada:
“Tupy ornottupy, thatisthequestion!”

Neste reinado tropicaliente: Viva a mulata tatata e o seu coração que balança ao som de um samba de tamborim. Nesse caleidoscópio psicodélico é proibido proibir! Somos mutantes misturando viola e guitarra na velocidade da luz, para lá de 2001. Nos palcos acendem uma luz, brilha o rei da vela. Nas telas, apagam-se as luzes, a terra está em transe. No mato virgem, Macunaíma descansa em sua rede, enquanto a roda vivanão para de girar feito a baiana de além-mar.

Nesta selva de pedra colossal o bicho vai pegar,
Para fazer o contraponto que vem questionar,
Do que tem fome a população…

Quais anseios tem as figuras que tomam as ruas. Que vão de lá para cá em busca da misericórdia, a rua tem alma.Quem revira o lixo e faz poesia no papelão. Quem barganha nos becos e vielas o pão de cada dia. O clamor liberta a ação de cidadania. Saciada a fome do corpo, alimenta de saber a alma na busca incessante pelo fim da miséria. “Quem tem fome tem pressa” – é a palavra do homem – e no país da Cobra Grande, a danada vai fumar!

Um dia, quando ruírem os pilares do absurdo concreto,
E os dragões de metal enferrujarem,
Um índio vai se levantar e reconstruir o mundo,
A natureza será a mãe da civilização…

E os seus filhos virão para escrever o enredo de um novo tempo – guiados em comissão de anciões na trilha da evolução – onde a paz vai dar o tom da canção que vai harmonizar o samba da nova era. O sol tropical vai iluminar os pajés que irão transformar a sociedade. Assim vai nascer o conjunto de curumins e cunhatãs – de coração pulsante em um ritmo audacioso feito bateria -que irão pensar para além das fantasias.

Essa aldeia vai brilhar no futuro,
Feito alegoria de um mundo mais justo.
O povo de alma vermelha virá,
Portando a bandeira das transformações,
O mestre índio de cara pintada,
De alma devoradora,
Virá!

Author: Carnaval Virtual

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