A saga do boi é o enredo da Folguedo Caipira para 2023

Desfilando pelo Grupo de Acesso I do Carnaval Virtual, a SCESV Folguedo Caipira apresentou o enredo que levará para o seu desfile de 2023.

Pavilhão oficial da agremiação

De autoria de Alê MSF e Vinicius Lopes, a escola de Jaboticabal/SP irá caminhar pela figura do boi e suas representações na humanidade através do enredo “A Saga do Boi – É Santo, é profano. Um Deus de vários mundos”.

Confira abaixo a sinopse do enredo divulgada pela agremiação:

Prólogo do Enredo

A sociedade cultural escola de samba virtual Folguedo
Caipira apresenta para o Carnaval de 2023 o enredo “ A Saga do boi :é santo , é profano. Um Deus de vários mundos “.
Visando mostrar oque há de melhor na cultura brasileira para o Mundo, nós da Folguedo desmistificaremos a sagrada figura do Boi, símbolo maior de nossa agremiação.
Desde a aparição dos primeiros homeridios na face da terra , os seus ancestrais que hoje conhecemos como
“gado” Já se fazia presente ,alimentando o imaginário e o corpo humano sendo alçado a categoria de DEUS por civilizações do antigo mundo .
Cultuado ,venerado, amado e odiado, o boi e todas as suas variantes se fez necessária na formação de diversas mitologias cruzando a fronteira entre o real e o ficcional se tornando peça chave de rituais ,lendas ,mitos e
histórias dos mais diversos lugares, a Folguedo Caipira leva a passarela virtual ,sobre a ótica de narrativa de
“ Conversa de bois “ de João Guimarães Rosa a relação do boi com a natureza, com o ser humano e com o
próprio boi ,desdobrando os búfalos ,touros, vacas
,bezerros entre outros ,onde todos esses animais ganham um espaço no universo místico do homem primitivo ,mas também na mente do homem contemporâneo.
Emergindo assim esse imenso carro de boi onde a mercadoria a ser levada é o mundo ,mundo esse que se
rendeu há milhares de anos a força e vigor desse animal que conseguiu evoluir o suficiente para ser considerado imortal.

“Que já houve um tempo em que eles conversavam, entre si e com os homens, é certo
e indiscutível…”
trecho de “Conversa de boi”

Capítulo I
Primitivas grutas

Toca o berrante ao longe o Bisonte logo levanta as orelhas e diz.
-Acorde Auroque já esta na hora de despertar, o carreiro
não gosta de esperar!
Auroque era um boi selvagem da raça “Bos primogenius” o pai do gado domesticado que se vê aos
montes pela fazendas mundo a fora ,foi de sua genética que se originou a raça zebu entre outras.
– MUHHHHHHHHHH !!! me deixe Bisonte já sou velho o suficiente para me levantar a hora que eu bem entender
! disse o enorme Auroque
O que o boi selvagem não se lembrava era que o
Bisonte ou “Bison Priscus” era tão ou mais velho que ele
,sua existência datava da última glaciação e dele
provém os Bisontes americanos .
Os dois sempre estavam a frente do carro como “bois de guia” conduzindo os outros bois que vinham atrás entretendo-os com suas histórias.
Já se encaminhando para serem selados Bisonte grita :
-Uhhhhhhhhhhhg vamos Auroque conte uma de suas lendas sobre aqueles que andam sobre duas patas .
O velho e razinza Auroque olha com desdém para a audácia de seu companheiro ,mas se anima em um raro momento de felicidade começando a confabular um
conto sobre uma gruta pela qual ele havia passado .
-Era frio não existia nada além de mato, florestas e pedras havia também uns seres estranhos que andavam sobre duas patas muito parecidos com o carreiro que nos conduz hoje em dia ,o período da
humanidade se é que existia isso naqueles seres, era o
da pedra lascada tudo era novidade para aqueles seres aproximadamente 2,5 milhões de anos atrás, eles descobriram algo impressionante Bisonte! eles ao entrarem em Grutas para se proteger do clima e
também de outros animais selvagens, começariam a desvendar o ambiente úmido e cheio de argila , ao
encostar seus dedos sujos nas paredes eles veriam que poderiam criar imagens , inventariam traços,
reproduziram figuras ;Nasce então a primeira forma de arte visual nomeada de arte rupestre.
Alguns séculos depois o homem moderno já evoluído em
1879 na região dos Montes Cantábricos achariam essas imagens , seria a filha de Marcelino Santuola que ao entrar pelas frestas dessa mesma gruta na Espanha gritaria “ um touro papa !”.
A partir dali estava feita a maior descoberta sobre os homens pré históricos, viviam entre eles os enormes Bisontes, Búfalos e Touros que foram documentados assim como suas rotinas cotidianas em Altamira .
Mas lá pelos lados da França quase 100 anos após ,em
1940 Lascaux entraria nesse roll de sítios arqueológicos de arte rupestre porém, Lascaux foi muito mais além
criou e replicou de forma virtual todo o território interior de sua gruta para exposições disponibilizadas em acervo digital .
Hoje todos , e em todos os lugares podem ver os maravilhosos bois que muito tinham a oferecer para
aqueles seres humanos, além de alimentá-los ,os bois e
bisontes selvagens lhe guarneciam de ossos para criação
de armas de caça ,utensílios e suas peles eram usadas como roupas que os protegiam do clima inóspito da terra primitiva .
Nos últimos 10,000 mil anos a criação de gado tem sustentado os humanos em suas necessidades, nós bois de fato exercemos um estranho domínio sobre os povos da terra .

“ O homem é um bicho esmochado, que não devia haver. Nem convém espiar muito para o homem. E o único vulto que faz ficar zonzo, de se olhar
muito. E comprido demais, para cima, e nāo cabe todo de uma vez, dentro dos olhos da gente. –
Mas eu jå vi o homem-do-pau-comprido correr de uma vaca …”
Trecho de “conversa de bois

Capítulo II
LENDAS DE UM velho MUNDO

-Ande touro pare de se lavar no riacho …disse o carreiro para Ápis.
Ápis era o “pé de guia” ou “ quarta de coice” um touro totalmente branco de cauda negra e com um sinal de lua minguante no peito , pertencia a realeza egípcia era cultuado como um Deus e por saber disso nutria uma vaidade impecável.
-Mhuuuuuuuuuu esse carreiro é uma sarna em meus cornos “ disse Ápis para Minotauro .
Minotauro também ocupava o lugar de “ pé de guia “ porém ele era negro como a escuridão de um recinto
fechado ,diziam os outros bois que ele podia andar sobre duas patas assim como o bicho homem.
-mughhhhhhg!! não seja preguiçoso Ápis saia logo desse riacho e vamos para a formação do carro ,não me
obrigue a tira-lo daí ! Exclamou Minotauro
-Eu tenho saudades Minotauro daquela época em que o bicho homem nos temia e nos venerava, você se lembra? Perguntou-lhe Ápis
A saudade de Ápis era compreensível afinal ele de fato era um Deus cheio de regalias , o animal mais celebrado do antigo Egito a própria reencarnação do Deus Ptah.
A princípio Ápis era um Deus da fertilidade e da força física ao passar dos anos foi associado também a Osíris
Deus dos mortos ,com o decorrer dos tempos essas associações se tornaram mais intensas culminando na lenda “procissão de Ápis “, que consistia em ir de cidades em cidades egípcias carregando os restos mortais de Osíris que havia sido morto por seu irmão Seth.
Ápis significou todo um complexo conceito religioso ,sua identidade como touro sagrado de Mênfis seja como
Hórus ,seja como Osíris ou Atum se fundiu com toda uma cultura .
Ápis morreu!!!salve Ápis!!!
Com isso Mênfis se cobria de luto , muitos egípcios raspava suas cabeças e comiam somente verduras em sinal de respeito mas Ápis renasceria por muitas e
muitas gerações no corpo de um novo touro branco .
Adoração a deuses bois não se restringia ao Egito no caso da iconografia hindu o Búfalo por ser mais rústico, selvagem e pesado era o animal perfeito para ser a
montaria da divindade da morte Yama assim como no
Tibet o Espírito da morte tem cabeça de Búfalo entre as populações montanhesas do Viatnã para os quais o
sacrifício desses animais sagrados era um ato religioso essencial, o Búfalo é respeitado da mesma forma que um ser humano ,o abate do animal através do rito
sacrificial transforma o em uma espécie de enviado, intercessor da comunidade junto aos Espíritos superiores.
Sabe se também que do vale do Indo no atual
Paquistão e no beluchistão arqueólogos já encontravam vasos de argila com desenhos de zebus bem como esculturas destes mesmos animais ,provém também do
vale o Indo a milenar adoração a vaca Nandi que servia de companheira para Shiva deus Indiano.
Nós últimos 3000 mil anos da história indiana , os bovinos ganham uma conotação espiritual em festivais
de sacrifício até então comuns passam a ser proibidos e somente a nobreza pode comer carne porém em 1000
d.c o consumo é restrito a todas as castas ,com a invasão
islâmica no século XVIII, os hindus para se diferenciar dos invasores que comiam carne aproveitam para enfatizar a proibição do consumo e abate dos animais sagrados .
A veneração por esse animal se estende por longas civilizações ,na antiga Mesopotâmia existia cerâmicas
da cultura “ Tell Halaf “ de quase 4.000 a.c ornadas com figuras de bois ou somente suas cabeças.
No Império Assírio o complexo de cidades que ia de
Uruk , Djemdet ,Nasr, Meslim, Lagas até Akkad por volta de 3.000 a 2.000 a.c tinham imensos ornamentos de
touros selvagens e domésticos em suas arquiteturas,
como a exemplo do Palácio do rei Sargon II cujos touros
eram enfeitados com asas e com cabeças humanas , no
Reino HITITA o touro foi venerado como Deus do relâmpago e das intempéries mais tarde esse mesmo
Deus seria renomeado de JÚPITER pelos exércitos romanos .
-não desejo lembrar de nada do passado Ápis … murmurou com dor no coração Minotauro
Ao contrário de Ápis ,Minotauro já não tivera a mesma sorte em sua jornada histórica.
A desgraça de Minotauro começa muito antes de sua existência, a princesa fenícia Europa em um passeio a
praia se depara com um lindo touro enfeitado de flores
e ao se aproximar e constatar sua mansidão ,monta nele e sai a passear porém este touro não era um animal
comum ele pertencia a Posseidon que a mando de Zeus
leva a princesa Europa pelo mar Egeu para a ilha de
Creta ,daí nascia a conexão dos fenícios com os cretenses que possibilitou a evolução do alfabeto e arquitetura .
Do romance de Europa e Zeus nasceu três crianças mas só uma delas seria o rei da ilha de Creta o escolhido
pelos deuses foi Minos que fez de Creta e de seu Palácio
em Cnossos polo para o apogeu cretense por volta de 1.700 a.c ,a cultura local já dispunha de um padrão inimaginável com fabulosos afrescos que contavam
através de imagens as danças e touradas, taças e jarros de um colorido peculiar que testemunharam o gosto
requintado de seu povo.
A ruína de Creta começa quando a rainha Pasifae enfeitiçada se apaixona por esse touro branco que veio a ser presente de Posseidon ao seu marido , a mando da
rainha ,Dédalo prisioneiro do rei constrói uma vaca tão verossímil que foi capaz de enganar o touro mágico,
touro esse que foi morto nos 12 trabalhos realizados por
Hércules; dessa relação bestial nasce o temido
Minotauro que fora enviado para um labirinto na própria cidadela que de nove em nove anos recebia 7
homens e 7 mulheres como tributo ,esses jovens eram enviados para morrer pelas patas do Minotauro mas esse por sua vez só fazia se defender do destino infeliz que lhe foi proposto .
Uma lágrima escorre dos olhos de Minotauro ao lembrar da vida cruel em que ele viverá, onde o único lema era matar ou morrer .

“… o bois soltos não pensam como homens .Só nós, bois de carro, sabemos pensar como o homem…”
Trecho de “conversa de bois “

Capítulo III
Mitos do novo mundo

-mugir ,ruminar , andar e servir ! Pensa a Vaca de Presépio
A Vaca de Presépio era a única fêmea dessa junta ela ocupava o lugar de “ pé de coice “ era extremamente
dócil e esperta ,tinha uma destreza e atenção ímpar.
-Me diga gringo lá pelas suas bandas tem pastos tão verdes quantos esses ? pergunta a Vaca para o touro cor de Bronze.
A Vaca de presépio era muito perspicaz esteve ali junto de João e Maria no nascimento do homem mais
importante da história atual ,Jesus Cristo há quem o
diga que ela navegou pelos oceanos na arca de Noé.
Incrédulo com a pergunta o touro de wall street responde:
– de onde eu venho há poucas pastagens, mas me fale você vaca fofoqueira tu confias no carreiro?
-Gringo eu sou religiosa, tem uma passagem da bíblia no livro de Êxodos que diz!
“Tirai os brincos de vossas mulheres e vossas filhas trazeis a mim “sendo assim todo o povo hebreu trouxe consigo alguma peça de ouro por ordem de Aarão que
idealiza e constrói um bezerro fundido de ouro .
Aarão proclama diante de todos aqueles Hebreus
“ aí tens ,Israel os deuses que te fizeram sair do Egito…” posteriormente foi feito um altar diante da imagem do
bezerro ,onde era celebradas festas e sacrifícios pacíficos em nome do Senhor de Israel isso tudo tendo como
causa a impaciência do povo hebreu que não aguentará mais esperar por Moisés que não retornava do monte e assim renegando os ensinamentos do próprio.
Mas não era somente pra Aarão que os bovinos eram especiais ,o Rei Salomão tinha em seu templo uma bacia que era carregada por 12 bois .
-O bicho homem é assim Gringo pensa mais em si que no
todo… concluiu a Vaca de Presépio
Gringo era touro da raça red angus tinha a pelagem na cor bronze , Gringo assim como a Vaca de Presépio
também ocupava o lugar de “pé de coice ” porém ele era mais arrojado tinha um ar contemporâneo devido a sua vivência ,ele vinha de terras estrangeiras sua cidade
natal, Nova York do século XX, ele é símbolo do vigor
financeiro americano dizem que assim que ele pisou em Wall Street a bolsa de valores atingiu cifras milionárias, ele já estava acostumado a ver o bicho homem fazer de
tudo pela ganância ,cosmopolita Gringo viu sua imagem e semelhança se tornar hit com a “Cow Parade”
idealizada pelo suíço Pascal Knaap em Zurique como
forma de democratizar a arte ,ou em filmes a exemplo do gentil touro Ferdinando seu filme favorito ou como canções de ninar do tipo “boi da cara preta” o que ele não entendia era o porque da menina ter medo de careta .

Capítulo iv
Sertão da farinha podre

-muuuuuuuuuggg venha rápido Jaguanês bicho homem levou uma carreira de um dos bois …gargalhava Nelore ao ver a cena.
Nelore era um boi branco de pele preta ,ele e Jaguanês era os últimos da junta e ocupavam o lugar de “boi de
coice” entendiam do bicho homem como nenhum outro boi da junta poderia entender ,ambos eram zebuinos
sendo que nelore era da Índia e Jaguanês africano .
-Esse dia ainda nem começou direito e já temos muita história da lida pra contar…Avaliava Jaguanês
Nelore era relativamente um boi comum nas fazendas de gado do Brasil com enormes cupins na parte superior do torso ,geralmente visto aos montes em feiras de
agropecuárias ,representa 80% do rebanho comercial do país desde a década de 60 .
Os zebuinos como Nelore são de origem indiana além deles há uma infinidade de outros tipos de zebus
rodando o território nacional ,Gir ,Guzerá e indusbrasil como exemplo todos são subespécies do “Bos tauros indicus “ .
Por serem rústicos e capazes de se aclimatar aos trópicos os pecuaristas brasileiros em especial do triângulo
mineiro começaram na metade do século XX expedições a Índia no intuito de trazer os zebus para o Brasil.
Sem muita exatidão sabe se que os bovinos chegaram em solo nacional em pequenos lotes ao longo do século XVIII a mando do donatário Martim Afonso Souza de Portugal a São Vicente em São Paulo em 1534.
No ano seguinte foi a vez da capitania de Pernambuco receber os novos animais a mando de Duarte Coelho, os primeiros núcleos de povoações foram acompanhados pelos rebanhos nas faixas litorâneas de norte a sul e também no centro e planalto com a finalidade de
facilitar a vida do colonizadores e de transporte na
tração dos engenhos de açúcar, na ocupação do Sertão além de dar carne e leite para os colonos.
Já Jaguanês era um boi com riscas negras e vermelhas salpicados de branco nativo do Nilo é forte por natureza foi por muito tempo mantido no haras da fazenda imperial Santa Cruz de Dom Pedro I junto de diversas outras espécies .
Na década de 60 do século XIV os bovinos seriam usados na tração dos grãos de café, por serem exóticos em
relação a raça europeia e com uma larga experiência na seleção e hibridação de animais, o Barão do Paraná
adquiri esse título de Dom Pedro II por sua criação na
fazenda do vale do café em Paraíba do Sul ao importar para o zoológico de Londres esse tipo de espécie zebuina .
Conhecido como triângulo mineiro, hoje localizado entre os rios Grande e Paranaíba antes pertencentes a
capitania de Goiás desde o século XVIII, fazendo a
ligação entre as cedes de Minas Gerais e Mato Grosso era usado pelos tropeiros como pastagens dessas raças de bovinos, foi o gado que fez o triângulo mineiro se tornar mineiro .
Os tropeiros que utilizavam a região reclamavam de ter que pagar tributos a Minas Gerais em 1816 assim sendo anexado ao estado por volta de 1836 , o antigo “ Sertão da farinha podre” é alçada a vila e lá pelos meados de 1866 se torna a recém criada cidade de Uberaba .
O “Sertão da farinha podre” a partir do século XIX passa a receber o povoamento ,com a decadência da
mineração a elite que antes era enriquecida com ouro e diamantes passa a trabalhar com a pecuária.
No processo de consolidação de um tipo de gado capaz de avançar pelo Sertão os criadores de Uberaba
enobreceram seus bovinos fazendo de sua cidade polo de criação da raça indiana com desenvolvimento de laboratórios de inseminação artificial .
Como os bovinos são mercadorias utilizadas para está ou aquela função a manipulação genética e diferenciada se faz necessária para o aprimoramento da carne ou
para produção de leite resultando na promoção do bem estar animal evitando doenças como a febre aftosa e anomalias como da vaca louca .

Logo oficial do enredo

Capítulo v
A farra dos bois

– Ehhhhhhhh meus bois vamos símbora, oces não queriam festejar meus meninos…
-hoje tem um tantão de festejo bom pra nós visitar !! exclamou o Carreiro
A junta de bovinos seguia o caminho do destino entre uma parada e outra, lembranças dos mais diversos tipos.
A primeira parada foi no Rio de Janeiro as touradas começavam a ser organizadas promovidas para entreter em datas importantes a monarquia portuguesa se
tornando mais notável no período que compreende 1808 a 1821,quando a família real se instala na cidade em
razão dos conflitos napoleônicos após uma pausa de 18 anos na prática de corrida de touros em 2 de julho de 1870 o jornal da tarde anuncia .
“acaba de chegar a está corte ,de Montevidéu o senhor Servano Gomes ,empresário de uma companhia de touros […],propõe a dar
espetáculos desse gênero que tem sido muito
aplaudidos nas capitais de Lisboa, Madrid e Montevidéu. “
Os bois da comitiva do Carreiro nada gostaram da ideia de permanecer ali .
-Esse carreiro doido está pedindo um solavanco daqueles Bisonte!
Resmunga a Vaca de Presépio

O carreiro entende e prossegue com sua jornada até encontrar uma romaria de carros de bois idênticos aos dele .
-Agora sim os festejos vão começar, viu Minotauro se eu não tivesse me banhado, não estaria apropriado para a ocasião .verbalizou Ápis
Na primeira semana de julho começa a festa do divino pai eterno ,uma romaria que vai da cidade de
Mossâmedes noroeste de Goiânia utilizando um importante meio de transporte brasileiro o “carro de boi” que se estende por 150 km até o santuário de Trindade em Goiás.
Em média são 20 ou 30 carros por caravana ,se leva de tudo mantimentos, bagagens ,utensílios e o principal a
fé, essas caravanas são formadas por famílias que vivem da pecuária extensiva (Corte e leite) os romeiros ao final de cada pouso diário fazem um reza .

“Sou romeiro que caminha Sou devoto do senhor
Caminhando pela terra santa
Velha trindade da fé e amor”

Durante a festa do divino em trindade a cidade chega a receber cerca de 300 a 400 mil romeiros dos quais 10
mim chegam utilizando o carro de boi , comemorando o dia da santíssima trindade um domingo após ao pentecostes (50 dias depois da Páscoa).
A origem dos festejos começou em 1840 quando um casal de camponeses achou uma medalha de barro que tinha a imagem de Virgem Maria sendo coroada pela
Santíssima trindade isto é o pai ,o filho e o espírito santo no arraial do Barro Preto.
No santuário existe ambiente chamado de “ sala dos milagres” além das penitências e promessas a sala
contém artefatos das bênçãos alcançadas, do lado de
fora acontecem desfiles de carros de boi que chamam a atenção dos devotos se tornando atração principal do
evento religioso ,os carreiros têm um espaço reservado
para o acampamento cedido pela prefeitura de Trindade nestes alojamentos provisórios as mulheres cuidam das tarefas domésticas e os homens levam seus sagrados gados para pastar nas redondezas .
As romarias atravessam múltiplos domínios; do sagrado ao secular ,do tradicional ao moderno ,do regional ao nacional , do campo à cidade em um caráter ambíguo
,nelas o romeiro transpõe a vida sedentária da rotina para o nomadismo temporário saindo de um lugar
familiar e entrando em um universo sacral, resultando em contato direto com o sagrado e profano reforçando o convívio familiar e consolidando a relação dentro de sua comunidade com seu estilo de vida.
Ao prosseguir com a caravana os bois se deparam com o festival folclórico de Parintins onde o amor e o ódio por um dos bumbas envolvidos na disputa andam juntos ,o
boi Bumbá começa a partir do roubo do boi preferido de um fazendeiro feito por pai Francisco para satisfazer os
desejos de sua esposa grávida que almejava comer a língua do boi ,ao perceber a ausência do animal o
fazendeiro interroga todos os funcionários e obriga pai
Francisco a trazer o tal boi de volta vivo , desesperado
Francisco pede ajuda ao pajé que consegue ressuscitar o animal , daí nasce o mito do boi bumba que é comemorado como sinal de celebração pelo milagre alcançado.
Esse mesmo mito se espalhou pelo Brasil e é festejado cada um a sua maneira de acordo com a sua região
como no caso do bumba meu boi do Ceará ,boi Bumbá
do Amazonas, boi Calemba do Rio Grande do Norte, boi mamão de Santa Catarina .
No estado do Maranhão a população negra ficou proibida de festejar o bumba meu boi no período de
1861 a 1868 , até a década de 60 os bois não podiam ir ao centro de São João para não incomodar as famílias do primeiro escalão da cidade.
Seguindo a caravana os bois e a vaca chegam na região
norte do Espírito Santo onde acontece o folguedo Reis de boi que tem a mesma lenda sobre outra ótica ressignificando o mito .
Esse festejo acontece ao som de apitos, marujos começam a tocar uma marcha de chamada do vaqueiro
este por sua vez aparece batendo um bastão de madeira semelhante a uma bengala sapateando vestindo trajes
velhos e coloridos, o vaqueiro trabalhador sai de casa em casa ofertando seu boi que entra dançando,
terminada a cantoria ocorre a morte do boi todas as
suas partes são vendidas e cada participante contribui com o vaqueiro como pode ,posteriormente o boi é
ressuscitado ao som da marcha “levanta meu boi”.
“Nós somos bois… bois de carro …os outros
,que vêm em manadas ,para ficarem um tempo nas águas pastando na invernada sem trabalhar ,só
vivendo e pastando ,e vão-se embora para lugar
aos novos que chegam magros ,esses todos não são como nós…”
Trecho de “conversa de bois”

Epílogo
Boi Folguedo
A comitiva retorna para o Rio de Janeiro porém agora era fevereiro as ruas estavam em festa tudo era bonito cheio de cor, os bois da junta do Carreiro ficam
fascinados com tamanha beleza e felizes por terem suas
vidas, histórias e mortes contadas agora no Carnaval por diversas escolas de samba desde Estácio de Sá que
contou a história do boi voador de Maurício de Nassau
até Unidos de Padre Miguel que tem como símbolo o boi avermelhado como lembrança da vida rural carioca .
Outras agremiações enalteceram o boi em seus enredos Boi da Ilha do Governador, União de Jacarepaguá,
Império de Casa Verde e Paraíso do Tuiuti são algumas delas ;4 dias de festas espalhados pela cidade e pelo
país, os bois caem na gandaia , a junta é recebida pelo o
rei momo da cidade que era um boi também !!! o Boi
Folguedo convida todos os seus semelhantes a brincarem o Carnaval remodelando esse animal e
reafirmando sua identidade que se funde com a história
da humanidade, entendo o porquê dele ser imortal.
Fim

“O homem não é mais forte do que um boi… nem todos os bois obedecem sempre o
homem.”
Trecho de “conversa de bois”

Biografia
João Guimarães Rosa: Sagarana
Conversa de bois :Uma fábula de João Guimarães Rosa
História ,ciência e tecnologia da carne bovina
Nome aos bois: Zebus e zebueiros em uma pecuária de elite
1°congresso de arqueologia penínsular
A contação dos bois :Uma leitura sobre as vozes bovinas no conto“conversa de bois”na obra Sagarana
“Conversa de bois”sob a ótica Nietzscheana da crítica da razão
Arte paleolítico como proposição cosmopolitica: uma invenção Betesiana
A evolução dos ruminantes
Fato e nota: O cavalo e o boi na América ,em especial no Brasil
A longa vida dos símbolos
SAGARANA : O Brasil de Guimarães Rosa
O artista popular :Reinvenções e as apropriações dos Reis de boi
Veterinária e Zootecnia
A romaria do Pai divino
História do povoamento bovino no Brasil central
A geografia mítica do boi
A invenção e o encantamento do boi em Guimarães e
Elomar: Traços de uma narrativa oral no Sertão
Abram a porteira ,deixem meu boi passar
Uma diversão adequada? As touradas no Rio de Janeiro do século XIV (1870-1884)
Deuses Animais de Elizabeth Loibl

Author: Lucas Guerra

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