Alegria Sambista apresenta enredo para o Carnaval Virtual 2025

Estreante no Carnaval Virtual, a ESV Alegria Sambista apresentou o enredo que levará para a disputa do Grupo de Acesso II na edição comemorativa dos 10 anos do Carnaval Virtual.

De autoria de João Marcos Rodrigues da Silva, a agremiação irá defender, em 2025, o enredo “É Obra do Espírito Santo”.

Confira abaixa sinopse oficial:

É OBRA DO ESPÍRITO SANTO

Este primeiro retalho do enredo conduz nossa imaginação por caminhos bíblicos, revelando, em detalhes, uma narrativa que se desenha como páginas vivas diante dos nossos olhos, dando protagonismo a João Batista – aquele em que a santidade e a obra de conversão é alicerçada pelo Espírito Santo, como dito pelo Anjo Gabriel ao anunciar seu nascimento: “Ele será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe”.

Logo oficial do enredo

João tornou-se a imponente voz que anuncia: “O Reino dos Céus está próximo!” e chama os pecadores ao arrependimento para alcançarem a salvação, em meio a um cenário dominado pela influência infernal, que prende os que recusam a boanova às amarras da eterna escuridão.

A sua verdade convertia, porém, diante dele ainda haviam aqueles de aparência exemplar, mas que buscavam não a glória celeste, mas, sim, os benefícios da liderança do povo judeu. Eram esses os Saduceus e os Fariseus, mas que, certa vez, foram desmascarados pelo exímio cristão, que os reduzira a “raça de víboras” por sua falsidade, que, por detrás da máscara de homens justos sob o olhar de Deus, mascaravam suas más intenções.

Os Saduceus, gananciosos, tomavam dos pobres seu dinheiro, contradizendo o mandamento “Não roubarás”, da Lei de Moisés, que hipocritamente se diziam defensores. Já Os Fariseus, se diziam rígidos defensores da moral estabelecida pela mesma Lei, mas, diante do adultério de Herodes Antipas e Herodíades, sua omissão revelou sua hipocrisia, pois escolheram o silêncio para não confrontar o pecado do governador, demonstrando que sua defesa da lei era seletiva e conveniente.

João Batista não era homem de amansar o errôneos descontentes, mas, sim, de apontar para o erro e para o céu. Por isso, torna-se odiado por Herodíades, exmulher do meio-irmão do seu marido Herodes Antipas, por ver o santo rebaixá-la a adúltera. O fim de João era indispensável para Herodíades, vingança que custou a vida do justo, que foi cruelmente decapitado na conclusão de um plano arquitetado por ela, que usou sua filha – Salomé – para aproveitar a embriaguez e o contentamento de Antipas com uma dança oferecida por ela, para pedir a cabeça daquele que logo logo seria glorificado por chegar ao fim do estreito caminho para a salvação, que ele não só passou, como também mostrou como passar, anunciando a salvação advinda da retidão na vivência dos mandamentos de Deus.

A glorificação daquele que aponta para a vontade divina serve-nos de exemplo para entendermos que ele se fez instrumento movido pelo Divino Espírito Santo para a elevação da obra de amor de Deus.

Ao remendar os dois primeiros retalhos, como que em um quebra-cabeça, vemos a história continuar, mas, desta vez, quem a escreve são os missionários da boanova que vêem, ao adentrar o território das tradições pagãs de povos ancestrais como os celtas, lusitanos e romanos – habitantes de onde viria a ser Portugal –, a ressignificação do costume pagão de conectar-se com o sagrado pela chama da fogueira como uma didática solução para cristianizá-los, relacionando a chama da fogueira àquela acesa por Isabel – como conta a tradição oral – para anunciar a Maria o nascimento de João Batista: chama viva, luz inapagável, que rasga as trevas do pecado e aponta o caminho da salvação; é incandescência cristã a iluminar a ignorância espiritual, prenunciando também o ardor do juízo final, reservado àqueles que rejeitam a salvação.

A chama da fogueira, outrora acesa em reverência e clamor ao Sol e a deuses pagãos – no culto desses povos ancestrais – para que houvesse fartura na colheita, fertilidade da terra e proteção das plantações, ressignificada, agora resplandece nas fogueiras dos camponeses que direcionam esses mesmos pedidos a São João Batista.

Plantada a semente da fé, floresce um novo costume camponês: festejar o São João. Durante a Idade Média, essa festividade é o encontro entre o luxo e a labuta, onde camponeses, nobres e clérigos são unidos pelo calor da fogueira em uma festa essencialmente rural, onde se fartam de alimentos e assistem os casórios acontecerem; costume que, mais tarde, viria “na onda dos portugueses”, ao costurarem o Atlântico e unirem culturalmente Portugal à Terra de Santa Cruz.

No século XVI, o costume desembarca com o colonizador português na recémdescoberta terra. O indígena nativo ensina-os o modo de plantar, colher e transformar em alimento o milho, o amendoim e a mandioca, antes desconhecidos do branco.

Agora, acrescido do conhecimento desses ingredientes, o português leva seu costume às zonas rurais pela relação com a fertilidade do solo e a fartura na colheita, sendo plantado pela fé e regado pela reza, pelo canto e pela dança. Ali floresce e se enraíza como festa de agradecimento dos camponeses a São João, pela abundância desses ingredientes que ganham protagonismo na alimentação da festividade e que, com o tempo, tornaram-se marcas nacionais dela.

O São João aqui torna-se tão brasileiro a ponto de fazer acreditarem que é uma invenção brasileira e não uma versão abrasileirada. Sua musicalidade é uma miscigenação… onde a zabumba e o ganzá – saberes instrumentais trazidos de além-mar no porão dos tumbeiros – unem-se aos europeus instrumentos sanfona e triângulo, resultando na beleza que tradicionalmente se ouve nos arraiás.

No século XIX, o azul do céu divide espaço no olhar com as cores dos balões que “levam a São João” a oração, o agradecimento ou o pedido feito ao santo, que sobem em meio à poeira levantada pela quadrille, ops, quadrille não… quadrilha, dança que os camponeses brasileiros parodiavam, a seu jeito, nascida da quadrille – dança francesa trazida ao Brasil junto à corte de D. João VI, depois de dar um “perdido” em Napoleão – como aquela criança que a gente se pergunta: “é filha dela mesmo?”, pois reveste-se com elementos da roça brasileira, como o chapéu de palha e o casamento que vira uma confusão: tem noiva grávida, viúva barraqueira e bêbado caído no chão.

Este retalho, último para o resultado final, conta “tim tim por tim tim” como foi que, da Judeia, o nome de João chegou aqui. Essa obra, quem alicerçou foi o pescador Lourenço do Espírito Santo, que, movido pela fartura de peixes de água salgada, chegou à Barra — foz do rio Paraíba do Sul —, onde embrenhou-se três quilômetros rio adentro, até uma desabitada margem, onde fixou morada e ergueu a capelinha que abrigaria a imagem de São João Batista e a devoção a ele dedicada.

Daí, então, o padroeiro enraizou-se na terra e no coração sanjoanense. Há “um cado” — e bota cado nisso! — de retalhos de histórias que, costuradas, mostram a fé do pescador que clama a intercessão de São João para uma pesca farta e para ter proteção ao sair para pescar — como já acontecia em Portugal.

O culto, regado por pescadores agora de cá e também por futuros agricultores habitantes do lugar, fez florescer a semente plantada por Lourenço. Nas águas do rio Paraíba do Sul, São João não é santo de primeira viagem, pois, desde o século XVIII, visitava as localidades ribeirinhas dessas bandas, parando de margem em margem, na companhia de muitas embarcações que, enfeitadas de tecidos e bandeirinhas, seguiam o quadro que estampava sua imagem.

De lá pra cá, a ideia não cessou, mas foi modificada após vir em procissão fluvial a nova imagem encomendada, pois a antiga se perdeu nas chamas que incendiaram sua morada. Depois desse acontecido, virou costume anual trazer seu quadro no 23 de junho em procissão fluvial.

No Cais do Imperador, ela é muito aguardada, de onde os irmãos da irmandade transladam o quadro para o hastearem em frente à sua morada. Aqui, a fé se fez irmandade, e a irmandade se fez guardiã do templo — imponente Matriz da vila e, posteriormente, da cidade — e sustentáculo da devoção a São João Batista nessas bandas.

Ao chegar a festança, o vento frio do inverno sopra o São João… A temperatura cai, mas o ânimo sobe! O calor humano esquenta a quadrilha — e quem está de fora também. É um “embololô” de gente dançando, que só fica de casaco quem é neném! O São João é tão bom que até romeiro vem ver. Vem gente até de longe pra essa “belezura” viver!

Sob o céu de bandeirinhas, nas barraquinhas, tem comida típica pra se fartar. Tem paçoca, bolo de milho, caldo verde… “E pra alegria do meu filho?” Opção não vai faltar! Se ele é “atentado”, tem estalinho pra brincar.

Nesse meu arraiá tem muita diversão! Pra quem gosta de comer, tem comida. Pra quem gosta de dançar, tem forró de montão! Além do carnaval, sabe o que também amo nesta terra? Você tem dúvida de que é o São João?  

Author: Lucas Guerra

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