Conheça o enredo do GRPCSCVJCB Caboclinho Verde para o Carnaval 2018

CABOCLINHO VERDE
CANNABIS: UMA CABOCLINHO ALUCINÓGENA

Introdução:

É noite de festa na floresta, toda tribo se prepara para uma importante celebração. O grande pajé adentra a relva para colher as sagradas ervas que serão utilizadas nos rituais da noite. Porém, em meio à mata, avistou um caboclo, espírito guardião da floresta, que entregou uma planta ao pajé e ordena a ele que queime e fume, com a tribo, no pito durante a festa. O pajé jamais havia visto planta semelhante. Curioso e intrigado com o presente, retorna a aldeia e começa o preparo.

O fumo está pronto para ser queimado, a tribo se reúne em polvorosa na ocara. O pajé “acende, puxa, prende e passa”, todos queriam provar da grande novidade. “Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça”. Um por um, a tribo inteira entra na brisa, a maresia se espalhava pela floresta. O pajé ficou doidão, o cacique entrou na “nóia”, curumim fica morgado. Iiiiiiiiihhhh…”deu onda”…           “Que po**a é essa”, gritou um índio. “Mas que viagem”… gritou um outro.

Na verdade, era apenas o começo da viagem…

 

Sinopse:

Todo mundo via de tudo, mas ninguém entendia nada. Que erva é essa que deixou todo mundo doidão?

Foi pra lá de Bagdá, entre montanhas do Himalaia e as longínquas planícies do Paquistão, que a misteriosa planta germinou primeiro, foi por volta de 8000 A.C., que os povos primitivos da região resolveram enrolar a seda e apertar o baseado, descobrindo assim as propriedades mágicas da erva.

Não demora muito até a brisa se espalhar por todo o oriente. Na China virou negócio, passou a circular intensamente nas rotas comerciais. Na Índia, era a dádiva dos deuses e reza a lenda que Shiva, em seu exaustivo recluso nos campos, encontrou abrigo em baixo de uma planta. Com fome e desgastado, a divindade comeu algumas folhas, elas o fortaleceram tanto que as tornou o Bhang seu alimento favorito. Entre devotos da divindade, o bhang é a purificação da alma e comunhão com Shiva.

 

Com os beduínos, atravessou desertos e chegou ao continente negro. A África entrou na onda, ganhou novo nome e não demorou até a “diamba” criar raízes por lá. A erva se popularizou entre festas e rituais religiosos. Com a chegada do europeu invasor, os filhos da África veem suas sinas serem forjadas através da escravidão, e entre tenebrosas travessias nos tumbeiros a planta cruzou o atlântico, escondida na barra da saia das negras quibundos, aportou em solo Tupiniquim.

Em meio à dor e sofrimento da labuta, os negros plantaram a esperança, semeando a erva nos canaviais. A planta foi rebatizada, seja no fumo de Angola ou no pito de pango, os filhos da África veem na planta a herança de seus ancestrais . Não demorou muito até a novidade trazida das bandas de Angola se espalhar pelas senzalas do Brasil, a erva revitalizava a carne marcada pelo açoite e alimentava a alma, na espera da tão sonhada liberdade. Chegou aos terreiros e nos candomblés passou a acender a conexão com o divino. Nos batukes e manifestações culturais que começavam a ecoar pelos quatro quantos do país a planta colocava ritmo as danças, libertava o corpo e estimulava selvagens movimentos, movimentos esses, que outrora ecoavam do outro lado do atlântico. Os olhos negros, antes vermelhos pelas lágrimas derramadas, se encontravam agora ainda mais vermelhos, porém, deles  já não escorriam mais lágrimas.

 

 

 

Anos mais tarde, a erva passou a ser perseguida. Com ela, o samba, o batuke, e a capoeira. Era o início de uma era de repressões às raízes do povo negro, e no início do século XIX, foi editada no Brasil, à primeira lei no mundo contra o baseado.

O século XX se iniciava e a repressão transcendia fronteiras. Por todo o continente americano se fortalecia a segregação racial. A mistura entre culturas latinas e caribenhas, fundida com as matizes africanas, fez a erva se popularizar cada vez mais entre as etnias mais pobres da América, alcançando os EUA, que entram na “nóia” e iniciavam a política de “guerra às drogas”. O objetivo era acabar de uma vez com a erva no continente. Era um período de guerra e terror contra as populações marginalizadas.

 

Paralelamente, uma movimento embasado na paz e tolerância começava a nascer em uma ilha na altura América central, guiado pela luz de Jah, o movimento rastafári florescia na Jamaica, a erva logo se popularizou entre seu seguidores. Após tanto tempo demonizado, o baseado tornou-se novamente sagrado. Nas cerimônias rastas trazia a iluminação para mente, colocava o homem em contato com o divino, a erva tornava-se um símbolo de liberdade. E na luta pela liberdade uma voz se destacava, Bob Marley, um jovem jamaicano ultrapassava as barreiras da ilha e espalhava a brisa pelo mundo, com Reggae e muita erva, Bob resgatou e renovou as raízes de seus ancestrais, mostrando ao planeta que só a tolerância e o respeito podem construir um mundo melhor.

Esse mundo começava a ser construído, 1960, era o início de uma nova era para o baseado, em um período conturbado pela ameaça da guerra fria, um grupo de pacifistas norte americanos começava a contagiar o mundo com seu discurso de “paz e amor”, nascia o fenômeno Hippie, a onda do baseado se alastrava como febre entre os jovens. Atrás da brisa, chega também a galera do rock, jovens revoltados e contagiados por um ritmo frenético, levantavam fumaça e clamavam por “sexo, drogas e rock’roll”. O que antes era um hábito restrito aos guetos marginalizados, agora tomava conta dos parques a céu aberto dos grandes centros urbanos, apertar um baseado, tornava-se um ato transgressor de liberdade, um protesto aos valores de uma sociedade incoerente e hipócrita.

A fumaça levantada pelos transgressores foi tanta, que chegou ao Brasil. Os ventos da contracultura espalharam a brisa pelo país, ao som da vanguarda tropicalista, os Mutantes derrubavam cometas e os “baurets” de Tim Mia caiam no gosto da moçada. Mesmo em meio a repressão e a censura do regime militar, era possível escutar pelas ruas os berros da juventude revolucionária… “É PROIBIDO PROIBIR”!!!

 

Mas proibiram… Os anos se passaram, a tal proibição se enraizou e hoje deu suporte a maior guerra já travada no país, a guerra do tráfico transforma cidades em campos de batalha, e são os excluídos e marginalizados as principais vítimas do caos, pelas periferias e favelas se instaura o medo e a insegurança, diariamente vidas inocentes sucumbem à balas perdidas e achadas, e em meio a tanta dor e sofrimento, uma pergunta paira no ar …

-será que algum dia essa guerra vai acabar???

 

Ainda há esperança, a ciência avança rumo a um novo tempo, aquilo que nossos ancestrais já conheciam no passado começa a ser comprovado, a erva injustamente culpada pela morte de milhares de pessoas em uma guerra sem fim, é a mesma que agora tem o poder de curar inúmeras doenças e salvar vidas. O mundo passa a olhar a erva de uma forma diferente, vários países começam constatar o potencial econômico da planta, o baseado começa a ser legalizado. Portugal, Espanha, Colorado, e até nossos hermanos uruguaios já entenderam a parada, o baseado legalizado, torna-se o maior aliado na luta contra o tráfico de drogas. Milhares de brasileiros passam a sair pelas ruas em suas marchas da maconha, reunidos em prol de um único ideal, na luta contra a guerra e pela liberdade, já entenderam que o melhor remédio é “o cachimbo da paz”.

 

Enquanto isso na floresta, a tribo também começa a se mobilizar…

 

A indiarada gostou tanto da onda, que também resolveu se manifestar o protesto vai começar, uma marcha atravessa a mata, cruza a cidade e invade a avenida, a noite de festa que começou na floresta, encontra sua apoteose no maior espetáculo da terra. Embrazando a alegria, o caboclo comanda a tribo, a indiarada unida faz a massa delirar, e da primeira à ultima arquibancada um grito se faz ecoar ” “LEGALIZA JÁ, LEGALIZA JÁ” . No batuke e na euforia a farra dura a noite inteira, mas o dia vem raiando, a brisa vai indo embora, e vai batendo aquela larica, que sempre vem no final da onda, e quando ela chega, é difícil de matar, a tribo tá com fome, o caboclo tá sedento, sedento pelo título.
Essa larica, é vontade de vencer…

 

Autor: Ariel Portes

Author: Netto

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