Retornando ao grupo, o GRESV Corações Unidos apresentou o enredo que levará para a disputa do Grupo de Acesso I, na edição comemorativa dos 10 anos do Carnaval Virtual.
De autoria de Murilo Polato, a agremiação irá defender, em 2025, o enredo “Yèyé Omo Ejá”.
Confira abaixa sinopse oficial:
Yèyé Omo Ejá
Justificativa e Apresentação:
Carregada de axé, ancestralidade e fé, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Virtual Corações Unidos em 2025 exalta a mãe cujos filhos são peixes, Yèyé omo ejá, mais conhecida como Yemanjá. Para lhe exaltar, contamos suas histórias que lhe dão significado, que nos fazem compreender sua figura de afeto e fúria, de amor e de guerra, de sabedoria e valentia. Nada se firma sem o seu amor. Nada é feito sem vencer a dor. Seja o nosso equilíbrio. Nos oriente sob seu amor infinito.
Em tempos que a natureza clama por cuidado, reverenciamos às águas, e clamamos a mãe de todas as cabeças como nosso guia e inspiração. Sua história segue viva, celebrada e cultuada. Contar sua história é também contar a história dos que lhe celebram. É desfilar em fé, em flor e fúria. É ser o leito das águas que correm ao mar. É cantar em cada novo dia dessa romaria. Pois aqui, todo dia é dois de fevereiro.
Odoyá, minha mãe. Odoyá!
Sinopse:
“Dia dois de fevereiro
Dia de festa no mar
Eu quero ser o primeiro
Pra salvar Iemanjá (…)
Afinal, que o dia dela chegou”
Dorival Caymmi – Dois de Fevereiro
Do ventre do Céu e da Terra, a criação irá começar.
Obatalá e Odudua — o céu e o chão se encontraram.
Dessa união sagrada, Aganju e Yemanjá vieram,
Terra firme e águas vivas, que ao mundo todo cobriram.
emanjá no Orum vivia só, em sereno luar,
Até que Olodumaré quis-lhe a vida alegrar.
Seu ventre se encheu de brilho, e dali nasceram os mais cintilantes Eram as estrelas, que no céu foram se aninhar,
Na imensidão distante, decidiram morar.
De novo só, Iemanjá viu nuvens em seu ventre formar,
Que no céu vagavam livres, até chover e à Terra habitar.
Mas a solidão persistia, e então, num gesto de amor,
Do seu ventre nasceram os orixás
Xangô, Oiá, Ogum, Ossaim, Obaluaê e os Ibejis
Que fizeram companhia à sua Mãe
E desde então, viveu mais feliz.
O incansável Sol brilhava sem parar,
Desde o primeiro suspiro do mundo.
Sem sono ou pausa, ardia demais
Torrando os campos, humanos e rios
A Terra sofria, pedia descanso.
Os orixás se uniram pelo temor
O mundo adoecia sob tanto calor.
Mas Yemanjá, com sua sabedoria
Guardara segredos sob o seu caminhar.
Em suas saias alguns raios juntou
E ordenou ao Sol repousar.
No céu surgiu Oxu, a Lua serena,
De prata vestida, de calma amena.
Sua luz fria nos envolveu,
Na dança dos astros, nasceu o revezar:
O Sol a dormir, a Lua a reinar.
As estrelas velavam em silêncio e poesia,
Até que brilhasse um novo dia.
De Olocum, Yemanjá ganhara um tesouro
Em um frasco bem guardado.
Levava consigo o mistério do mar,
E o caminho que poderia lhe guiar.
Oquerê, ao vê-la, ficou enfeitiçado,
Pediu-lhe a mão, num amor encantado.
Mas com um trato selaram união:
Jamais tocar nos segredos do coração.
Mas o amor se encheu de tensão e ferida,
E Yemanjá fugiu, em dor e partida.
Na pressa, a garrafa foi ao chão
E nasceu um rio, livre, sem temor
Mas Oquerê, tomado de dor,
Virou montanha, erguida à Terra
Yemanjá clamou por Xangô e seu trovão,
Com oferendas feitas para a chuva a cair,
Xangô lançou um raio
E um estrondo a rugir.
O monte partiu-se em um vale profundo,
E o rio seguiu livre, ao seu lugar,
Nos braços de Olocum, Yemanjá rumou ao mar.
Ao mar, nem tudo lhe era bom
A humanidade mostrou seu dom
De fazer sujar, jogar restos em desprezo
O degradar, com tudo que não lhe servira.
Ferida, Yemanjá chorava em silêncio
Ao ver seu reino e corpo imundo
Foi a Olodumaré clamar
E em sua sabedoria, ensinou ao mar responder
Concedeu-lhe um dom, e com ondas, o lixo devolver.
Houve também o dia de festa em louvor
Que a humanidade, sua mãe não chamou.
Furiosa, ergueu-se contra a Terra
Montada em suas ondas, lhes lançava sua força
O mar invadiu, carregado das ondas.
Com seu abebé, reluzente ao ar
E o ofá de guerreira, pronta para bradar
Mostrou que sabe punir
Quem dela se esquece ou faz ferir.
Mas o pai da criação,
Trouxe seu opaxorô e aos homens pediu compaixão
Clamou para que o mundo não ruísse.
E em respeito ao Criador, se acalmou
As águas aquietaram e o mundo não se alagou.
Ó Mãe, de tal força soberana
Guiai seus filhos sem hesitar
Que nas águas, em prece possamos dela colher
Com os frutos que irá prover
Clamamos a ti em oração
Nos oriente com a sua proteção.
As oferendas são os símbolos de nosso amor
Com barcos, perfumes e flores
Preces, cortejos e cores.
Nessa romaria à rainha do mar
A Corações Unidos irá adentrar
É chegado o dia de te exaltar.
No dia Dois todo mundo irá clamar:
Odoyá, Minha Mãe! Odoyá!
Enredo: Murilo Polato
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das letras, 2003, p.382385, 391.