Vice-campeã do grupo II na edição passada, o CCJV Dom João apresentou o enredo que levará para a disputa do Grupo de Acesso I, na edição comemorativa dos 10 anos do Carnaval Virtual.
De autoria de Igor Cesar Cine, a agremiação irá defender, em 2025, o enredo “TENHO EXU, TENHO PIMENTA – A Bigoduda Ainda Mais Quente”.
Confira abaixa sinopse oficial:
Tenho Exú, Tenho Pimenta -A Bigoduda Ainda Mais Quente
Resumo:
1ª Parte A relação da pimenta com a religiosidade e espiritualidade. Abriremos caminhos com Exú Pimenta, prepararemos padês e ebós, e nos revestiremos de amuletos e patuás.
2ª Parte A pimenta ao longo da história. Conheceremos como foi a expansão desta especiaria pelo mundo, e como ela se conecta com fatos históricos.
3ª Parte A pimenta na culinária. Encerraremos com um grandioso e delicioso banquete na avenida, preparando pratos nacionais e internacionais que utilizam a pimenta.
Ato I: Onde Arde, Mora Exú – A Pimenta Que Abre Caminhos
I.
Laroyê, moço quente da gira!
Do grito rouco, do passo solto, do fogo sem freio. No amor, tem conexão com Pombagiras,
Seu axé atrai oportunidades, quebra o mau-olhado e desfaz demandas.
II.
Se Exu é presença, sua fome é fundamento.
E para abrir caminhos, o povo sabe o segredo:
Farinha, dendê, cebola, axé — e a pimenta.
Para acompanhar, fumo e bebida.
III.
Na esquina, a pimenta espanta.
No pescoço, protege. No bolso, silencia o olho gordo.
É superstição pra uns, mas pra quem conhece o axé,
É elo entre o corpo e o sagrado.
Exú Pimenta: Entidade da Quimbanda, conhecido por sua força e intensidade. Atua na remoção de obstáculos, desfazendo trabalhos espirituais e afastando energias negativas. É protetor contra inveja e mau-olhado, além de trazer justiça e retificação de erros. No amor, é aliado das Pombagiras, abrindo caminhos e despertando paixões.
Ebó / Padê: Ebó é uma oferenda feita a um Orixá. Já o padê é dedicado a Exu, orixá que atua como mensageiro entre os mundos. Ambos podem conter pimenta como ingrediente. O Padê de Dendê, por exemplo, leva farinha de milho umedecida, refogada no dendê e cebola, e também carrega a pimenta.
Amuleto: A pimenta é tradicionalmente usada como amuleto para proteção contra energias negativas, mau-olhado e inveja. Além da proteção, a pimenta também é associada à sorte, prosperidade e sensualidade.
Ato II: Ouro que Arde, Fogo que Alimenta – Da Rota das Especiarias à Mesa do Mundo
Desde muito antes das caravelas, os povos originários das Américas — como os maias, astecas e tupis — já utilizavam a pimenta não apenas como condimento, mas como oferenda, remédio e instrumento ritualístico. Para os maias, por exemplo, a pimenta era usada para purificar os mortos antes do enterro.
Com a chegada dos europeus no século XV, o mundo “descobriu” um tesouro: a pimenta. Cristóvão Colombo, ao chegar às Antilhas em 1492, confundiu o gênero Capsicum (como a dedo-de-moça, malagueta e habanero) com a Piper nigrum da Índia. Levou sementes para a Europa, onde logo virou iguaria exótica, moeda de troca e símbolo de status entre reis e nobres.
Durante as grandes rotas das especiarias — entre os séculos XV e XVII —, condimentos como a pimenta foram tão valiosos que motivaram tratados, alianças e disputas navais. Portugal, Espanha, Holanda e Inglaterra buscavam os sabores do Oriente, mas ironicamente, foi nas Américas que se encontraram novas variedades que incendiariam cozinhas e mercados mundo afora.
No Brasil colonial, embora o açúcar e o pau-brasil dominassem a economia das capitanias hereditárias, a pimenta circulava como ingrediente presente no cotidiano: nas hortas, nas cozinhas populares e em práticas medicinais afro-indígenas. Não chegou a ser cultura de exportação relevante, mas encontrou espaço e carinho no paladar do povo contemporâneo.
Ato III: O Banquete da Bigoduda – A Pimenta na Culinária Popular e Global
Assim, a Bigoduda Paulistana irá preparar um grandioso banquete na avenida, em celebração aos 10 anos do CaV e ao retorno ao Acesso I. Para a entrada, serviremos uma seleção de pimentas — malagueta, dedo-de-moça, pimenta-de-cheiro, habanero, jalapeño, biquinho, tabasco e scotch bonnet — cada uma com sua ardência, aroma e sabor.
No primeiro ato, o cardápio contará com a diversidade da culinária popular brasileira. Pratos emblemáticos como o acarajé com vatapá, quinhapira, tacacá com tucupi e jambu, caruru, sarapatel, moqueca capixaba e baiana ganham o toque picante que os torna inesquecíveis. A pimenta, aqui, não é coadjuvante — é protagonista.
No cardápio internacional, o picante também reina absoluto. Do mexicano chili con carne e tacos al pastor mexicanos ao vindaloo e chicken tikka masala indianos. Do coreano kimchi ao chinês mapo tofu, sem esquecer o spaghetti all’arrabbiata italiano e o pepper crab de Singapura. Um verdadeiro roteiro global pelos sabores que ardem e encantam.
E para refrescar (ou acender ainda mais), a pimenta invade também os copos. Drinks como o Bloody Mary, o Mezcal Margarita e o Caipimarga picante. Na sobremesa, claro, aquele clássico que divide opiniões: chocolate com pimenta.
Você vai encarar este banquete?