Iaçi Tatá Uaçu é o enredo da Estrela Dalva para o Carnaval 2023

5ª colocada no carnaval passado, o GRESV Estrela Dalva apresentou o enredo que levará para a disputa do título de campeã do Grupo Especial do Carnaval Virtual 2023.

Pavilhão oficial da agremiação

De autoria da Jorge Goulart e Pedro Ribeiro, a escola do Rio de Janeiro/RJ irá defender o enredo “Iaçi Tatá Uaçu”.

Confira abaixo a sinopse do enredo divulgada pela agremiação:

IAÇI TATÁ UAÇU

Justificativa: O enredo da Estrela Dalva para 2023 será “Iaci Tatá Uaçu”. A agremiação verde e branca explora a astronomia indígena, mostrando a relação entre os povos originários e os astros. Terão destaque os mitos cosmogônicos das estrelas e de outros astros, o papel das constelações na marcação do tempo, a utilização da posição dos astros para as atividades básicas da vida desses povos e as suas principais técnicas astronômicas. A escola busca a riqueza e a sabedoria destes povos, que dominavam de cor o caminho das estrelas e planetas nos céus de Pindorama.

No início, nada existia, até que Tupã, o Deus maior, criou Elvac, o céu, com a ajuda de Araci, Deusa da alvorada. À noite, havia apenas um teto preto e sem brilho… até que surgiram as Iaci Tatá – as estrelas!

Muitas lendas das várias mitologias indígenas descrevem as origens das estrelas, planetas e dos astros maiores de nosso céu, Sol e Lua. Em uma delas, os curumins subiram por cipós para fugir do castigo de suas mães e acabaram presos nos céus, seus olhos brilhando como estrelas ao olhar para a terra. Outra história conta que Guaraci e Jaci, filhos de Tupã, eram irmãos e enamorados, mas foram proibidos de ficarem juntos no céu, por isso Sol e Lua nunca brilharam juntos. As fases da Lua são narradas como um marido que engorda ou emagrece sempre que está com uma esposa diferente. E a nossa Iaci Tatá Uaçu, a Estrela Dalva ou Vênus, representa o espírito de Porãsy, mãe da beleza, que se sacrificou para derrotar os sete espíritos do mal, que estão na constelação de Eichú.

Saindo do campo das lendas, os habitantes de Pindorama se dedicaram a ver formas celestes que se pareciam com animais, pessoas e objetos, pois acreditavam que tudo o que existia na terra existia no céu. Estabeleceram conexões entre as estrelas e os pontos cardeais e usaram como orientação. O Tapirapé, ou “Caminho das antas”, seria uma rota seguindo a Via Láctea no céu que levaria direto para as minas de prata em Potosí, na Bolívia – o que foi comprovado em expedições posteriores. Existia também o “Caminho dos mortos”, através da constelação “A grande onça” – Três Marias ou Cinturão de Órion -, através da qual se guiavam para enterrar aqueles que os deixaram.

A leitura dos céus era um importante marcador do tempo para os povos originários. Enquanto o Homem Velho Tuivaé, o Urubu Ouroubou e a Anta Tapi’i traziam a estação do calor e das chuvas, o veado Guaxu e a ema Iandutim eram certeza de frio e seca. Mas poucas constelações indígenas têm a relevância de Eichú – as sete estrelas que conhecemos como Plêiades. Importante na marcação da época das chuvas, seu surgimento nos céus indicava o início de um novo ano. Festas e rituais marcaram esta passagem, indicando a renovação da natureza, a piracema e um novo ciclo do cultivo.

Logo oficial do enredo

Assim, construindo menires (pilares) de pedra para marcar a posição do Sol, abrindo fendas em rochas para observar os céus, criando mapas celestes e calendários em megálitos, desenhando cometas e estrelas em cavernas, os verdadeiros donos desse chão mantiveram viva a cultura milenar de uma Astronomia nada primitiva. E, se o desejo é ir morar nas estrelas, assim como queria Jaçanã – que se tornou vitória régia -, cada povo indígena embarcará rumo à estrela Tupi, da constelação (ocidental) de Retículo, batizada assim por astrônomos brasileiros e orbitada por Guarani, um planeta gigante gasoso. Quem sabe é lá a Morada dos Deuses, onde reside Tupã e estão todos os indígenas que por aqui não se encontram mais…

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Author: Lucas Guerra

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