Retornando ao grupo, o GRESV Ilu Ayê apresentou o enredo que levará para a disputa do Grupo de Acesso I, na edição comemorativa dos 10 anos do Carnaval Virtual.
De autoria de Fernando Saol, a agremiação irá defender, em 2025, o enredo “DO BARRO DA CRIAÇÃO: ANA, A DAMA DO SERTÃO”.
Confira abaixa sinopse oficial:
DO BARRO DA CRIAÇÃO: ANA, A DAMA DO SERTÃO
No início, Nanã reinava
Soberana, altiva, rainha
Sozinha pelo mundo
Moldando a vida com perfeição
Das suas águas primordiais
Saiu a matéria prima
Quem fez de Nanã, a dona
Dona do mundo
Dona de tudo
E Nanã se deu uma missão
De povoar sua terra
Com homens e mulheres
Que um dia, voltariam para ela
De barro era feito o homem
Ao barro voltaria o homem
Nanã é a vida
E empresta sua energia
Até que a vida volta a ela
Um dia
Ana é da vida, poesia
Filha da terra de Ouricuri
Mãe artesã
Pai lavrador
A infância, o barro moldou
Desde pequena, criativa
Fez seus brinquedos
Deu-lhes vida
Boi de barro
Cavalo-alado
Boneco e boneca
Fez santo de barro
Na feira do Araripe
Sua mãe era artista
Que vendia utensílios
Feito de terra, água
Pintados com tintas da mata
Suas criações eram também
Uma maneira de ajudar a família
Sem barro, a fome existia
E desde cedo, sua arte preenchia
A mente sonhadora
A barriga vazia
Quando acaba a infância
A inocência termina
Desde cedo viúva
Mãe de duas meninas
Mas o amor logo bate
A porta de Ana Leopoldina
Ouricuri é pequena
Não é terra de oportunidade
E para ganhar dinheiro
Precisa mudar de cidade
Em foi na grande Petrolina
Que surgiu a felicidade
Apegada aos santos da Lapinha
São Francisco das Chagas e Padim Padre Cícero
Foi na beira do Velho Chico
Que Ana então fez pedido
Queria transformar sua vida
Usando o que sabe fazer de ofício
O grande rio que fornece a arte
Para todos é inspiração
O barro que vem das beiradas
Moldou todo o seu coração
As panelas de barro, não fará
Ao olhar aquela imensidão
A carranca da feia barcaça
Encarou Ana pelo beirão
Ao voltar pra casa decidida
Vai criar com o mais puro amor
A carranca que Ana encarou
Ganhou vida o barro do rio
O Velho Chico então abençoou
O barro que era sustento
Nas feiras foi se transformar
Todos viram o raro talento
Da carranca para navegar
Proteger pescador de agouro
E fartura na rede, pescar
Seu segundo marido apoia
E valoriza sua profissão
As filhas que hoje, se vestem
Graças ao trabalho de artesã
Ana fez da sua vida o barro
Tal qual fez o barro, Nanã
O barro não nasce feito
É preciso ir retirar
Do leito do rio, profundo
No fogão ele vai cozinhar
Tem que curtir mais três dias
Antes de poder amassar
Só aí que o barro tem vida
E com ele, vamos modelar
As carrancas são sua herança
Vazadas no meio do olhar
Em homenagem ao seu grande amor
Que a vida não pode enxergar
São bichanas, são fruto da mente
Que Ana faz emergir ao criar
O seu mundo é todo moldado
Entre formas, texturas e cores
Só quem sabe contemplar sua obra
Vai sentir, entender seus amores
Por matéria que não dá na escola
E que muita das vezes, ignora
O barro que endurece, amolece
O mais espinhoso coração
Escultura que a todos fornece
Proteção a toda embarcação
Mas não peça licença e verás
O poder da sua maldição
Ao cair no chão se esfacela
Por devagar com andor
Pois diferente das artes de tela
O barro tem outro valor
É arte que o ar endurece
É lama que o fogo queimou
Quando o barro não é de quem merece
O destino é cair do andor
Até a belas carrancas
Que navegam toda manhã
Um dia vão fazer a viagem
Vão voltar para o solo de Nanã
Mas com Ana, elas viram arte
Pernambuco é sortudo de ter
A mulher que domina o barro
E o barro resplandece ao saber
Que Ana vai moldar a cerâmica
E que dela, vai brilhar o amor
Que Ana pode oferecer…
Ana hoje, é alma encantada
É carranca que nunca voltou
Da viagem que fez pelo rio
E do barro não se separou
Sua arte permanece imponente
Enquanto houver barro e cerâmica
Ana viverá eternamente!