Estreante no Carnaval Virtual, o GRESV Mocidade Curitibana apresentou o enredo que levará para a disputa do Grupo de Acesso II na edição comemorativa dos 10 anos do Carnaval Virtual.
De autoria de Fernando Saol, a agremiação irá defender, em 2025, o enredo “Natula – O ventre dos Ngalangi”.
Confira abaixa sinopse oficial:
Natula – O ventre dos Ngalangi
Uma velha história conta assim
Que nas terras altas de Bié
As águas caudalosas iriam subir
A montanha do Sol, para receber e reconhecer
Dos céus, nobre princesa invocada
Por povos que querem desbravar
As planícies perigosas de Kwango
Aldeias enfeitadas iriam festejar
Natula surgirá resplandecente
Seu nascimento gera forte comoção
Huambo, príncipe antes nascido
Temido pelo povo Ovimbundo
Aquele que manda
Sem ter conhecido
As terras elevadas de Angola
Que sofrem com cruel devastação
O vento frio que sopra
Para a lavoura, é maldição
Huambo não quer perder poder
Para a princesa que acabara de nascer
Aprisiona Natula, enfim
Dentro de um tronco de Omanda
A mais alta árvore dali
Se passaram 15 anos desde então
O povo Ovimbundu não aguenta mais
Súplica aos céus
O fim de tamanha desilusão
Enquanto o Bié apodrecia
Com a falta de fertilidade
Os céus estavam preparando
O recomeço da diversidade
E para as verdes matas do Miombo
Ordenaram um casal de Chapins
Que construíssem um ninho
Na mais alta Omanda
Que cantassem alto
E nunca sozinhos
Para acordar Natula e assim
Libertar nobre princesa
A vida começa agora
Vai conhecer as origens De toda a Angola!
Recebe a missão e então
Pelo coração do continente
No lombo de uma encarnada Palanca
Que conduz Natula a Kwango, rio abaixo
Até a imensidão das savanas
A brisa toca o rosto
É bela a sensação
Da liberdade, do novo dia
Da esperança
Se inspira na bravura de um
Leão Símbolo de lealdade
Que representa a solidez
Da verdadeira amizade
Seu povo precisa saber
Que só ajudando o próximo
Toda a nação poderá florescer
Nas manadas que espalham a poeira
São ensinamentos de uma vida inteira
Seguiu os passos
E aprendeu tudo que viu, sentiu e ouviu
Os elefantes são a grande inspiração
A ancestralidade ilumina
Mostra o caminho, a direção
A memória de quem já se foi
Virou encantado
Mas ainda vive
Pés na terra, mente no céu
O elo que une Mortos e vivos
Girafas são as verdadeiras guardiãs Enviadas da saudade
Protegem as noites
Festejam as manhãs
O leopardo se deixou olhar
Ensinou a caçar
Com maestria
Pois o povo precisa saber
Que o equilíbrio entre matar e morrer
Permeia a vida
As flores mais lindas
Pra vida enfeitar
As frutas carnudas
Para deliciar Água que mina do chão
Água que pinga do céu
Sementes que resistem
Ao sol do Bié
Tanta riqueza, atrai a cobiça
É preciso lutar contra toda injustiça
Se a maldade um dia chegar
Zebras irão se camuflar
Ensinam Natula, como defender o lugar
O além-mar tem perigos a navegar
Malfeitores, viajantes
Atraídos pelo brilho dos diamantes
Antes do anoitecer
É bom conhecer
A revoada de prateados Nkusus
Falam que nem nossa gente
Mas não falam demais
Inteligência é saber
A hora de calar
A hora de cantar
Cantar pelo povo que te segue
É chegada o tempo de amanhecer
Natula se banha nas águas
Repousa nas margens do Kunene
E antes do sol esquentar
Liberta seu povo
Os Ngalangi vão surgir dos Jacarés
Viverão pelas planícies
Um reino vai nascer, vai prosperar
Com os ensinamentos
Que Natula aprendeu
E uma nova Angola
Do seu ventre floresceu
Glossário
Natula – Mulher com coragem, ousadia
Bié – Planalto central de Angola Kwango – Rio que nasce no planalto de Bié e corre rumo ao Congo
Ovimbundu– Etnia bantu da região central de Angola
Omanda – Espécie de árvore que pode chegar a 35m de altura
Miombo – Bioma que reúne pastagens, florestas e savanas
Chapin – Pássaro de pequeno porte muito comum no Miombo
Palanca Vermelha – Antílope símbolo de Angola
Nkusu – Espécie de papagaio cinzento que era abundante em Angola
Kunene – Rio que nasce no planalto de Bié e corre rumo ao Oceano Atlântico