Retornando ao Grupo Especial, o GRESV Primeira Estação do Samba apresentou o enredo que levará para a disputa, na edição comemorativa dos 10 anos do Carnaval Virtual.
De autoria de Ailson Renan, a agremiação irá defender, em 2025, o enredo “O falar das rosas ”.
Confira abaixa sinopse oficial:
O FALAR DAS ROSAS
SINOPSE
Quando pensamos na vida cotidiana nos vem à mente o corre-corre do dia-dia, o trânsito caótico, uma vida cuja força motriz é o capitalismo, e ela dita as regras. Vem à mente um mundo acinzentado, feito de concreto, cinza este que parece contaminar até o ar, nas descargas de automóveis e nas chaminés das fábricas. O “tic-tac” do relógio dita nossos costumes, nossas obrigações.
Parece que não há mais espaço para os sonhos e devaneios humanos. A criatividade e a poesia humana estão cada vez mais fugaz. Isso porque nossa sociedade não dá tempo para o homem sonhar, afinal, é preciso sobreviver a esta selva de pedra.
Ande foi morar a poesia? Será que elas se perderam? Feito o poeta das canções, queixo-me as rosas, incrédulo com o que vejo. Quão bom eram os tempos idos dos poemas de amor, galanteios e serenatas. Desventuras transviadas e inocentes que revelava a primazia humana, o sentimento. Tempo que parece guardado nos velhos vinis das canções imortais de artistas de outro tempo.
Mergulhado em nostalgia, surge a indagação: as rosas não falam mesmo?
Chego conclusão de que as rosas falam, porque são metáforas, elas são as próprias musicas dos artistas, que entre melodias e versos ainda tentam exprimir um pouco de sensibilidade. Falam de esperança, quando percebem que o mundo está carente de luz. Falam das dores, denunciando as mazelas sofridas e cometidas pela humanidade. Falam de fé, quando o racionalismo não é capaz de explicar os fatos nem de afagar o coração. Também falam de vida, do folclore do povo e dos fatos do dia-a-dia. Enfim, falam de amor, da profusão de sensações que desmonta os homens e o faz entender que a vida pode ser melhor nas pequenas coisas.
São rosas musicais, desvinculadas de hipocrisia e pudor. Rosas que retratam momentos de dor, em que o homem reserva para si toda sua tristeza seja a dor da partida, da fome, da solidão… Mas se a flor tem espinho, também guarda em si a maciês das pétalas ao cantar momentos de alegria.
Através da musica o homem é capaz de expressar seus sentimentos: sejam alegrias, sejam tristezas. É feito uma rosa genuína, onde as pétalas em sua maciez revelam os mais belos sentimentos humanos, revela o amor, as alegrias da vida. Enquanto os espinhos, ásperos e perigosos retratam as verdades que não podem ser dita, o fracasso o amor e as angustias que sentimos.
O próprio poeta plantou um jardim fecundo e infinito onde brotaram pérolas, rosas musicais. Do morro de Mangueira surgiram artistas que na simplicidade do samba falavam o que sentiam. Lá só parece o céu no chão porque a inspiração ali fez morada. Entre folhas secas e samba no pé o jardim chamado Mangueira nos encanta a cada carnaval.
Enfim, salve aquele que me fez refletir. Salve Cartola, o poeta das rosas, cuja simplicidade transpira nas letras e melodias de suas rosas musicais. O mundo precisa acordar e o “moinho” da vida precisa girar porque a mensagem dos cabelos brancos não pode ter sido em vão. Somente o amor pode afastar todo “cinismo”, toda inquietude desse mundo acinzentado. Que o verde, o rosa e o dourado possa aquarelar este mundo cor de concreto, pois “se ainda teimo em criar, é porque tenho autonomia para sonhar”.
Olho para o céu e não vejo mais as estrelas. Olho para a terra e a lua parece que emprestou a violência de suas crateras para o nosso mundo. Este, cinzento, seco e pragmático. Às vezes, me pergunto, será que o amor morreu? Por onde anda a poesia? Vagando no tempo, talvez. Ouvindo Cartola e suas rosas, brota em mim uma esperança em dias menos ásperos, menos solitários. Eu, assim como o poeta, queixo-me as rosas todos os dias. Bobagem, não é? As rosas não falam… Será mesmo? Será que elas apenas assistem a minha melancolia nesse abismo que avisto da varanda, e que eu mesmo, plantei com os meus pés? Pois elas falam! E falam através da música que aquecem a alma e me fazem cantar. Do seu néctar surgem notas musicais, notas de fé, de amor, dor… Nos seus botões, o lirismo, a poesia, todo romantismo imanado dos poetas. Mas nossas rosas musicais também têm espinhos. Estes cutucam a nossa consciência, nos fazem refletir, pensar, quiçá sorrir e gargalhar. Pensando nas rosas, sinto brotar a esperança nos olhos do personagem do enredo… Nem tudo está perdido, as rosas falam! E o sonho ainda não morreu. O sonho e a fantasia ainda resistem em doses sazonais de utopia, no carnaval. Cartola “sonhou os seus sonhos” e assim fez surgir uma combinação peculiar… O Verde e o Rosa… Verdadeiro jardim, idealizado pelo poeta, a Estação Primeira de Mangueira é o legado de singelas rosas que sutilmente, suavizam com o seu falar os nossos ouvidos e mentes. Semente que ele nos deixou e divinamente floresceu. Enfim, Cartola, eu suas canções carregou suas músicas de sentimento… Este sentimento não pode acabar, é preciso sonhar, e esquecer um pouco do amanhã. Cartola é a rosa final a me ensinar que é preciso lutar… Rosa que fala em tons suaves, em letras simples e profundas… Entre cordas de aço me ensinou que tive sim autonomia para sonhar. E como o mundo é um moinho, volto com o peito vazio que este mundo corrido me deixou, para te exaltar…
Rosa maior do meu samba
Porque, apesar dos pesares.
O sol nascerá mais uma vez
“Por fim…”