Arautos do Cerrado descortina um cenário de maravilhas no Carnaval Virtual 2022

Pavilhão oficial da agremiação

Fazendo a sua estreia no Grupo Especial do Carnaval Virtual, o GRESV Arautos do Cerrado divulgou o enredo que levará para a avenida em 2022.

A azul e branca de Ceres/GO irá apresentar o enredo “Arautos Descortina um Cenário de Maravilhas”, de autoria de Danilo Guerra Couto e sinopse assinada por Fábio Granville.

Confira abaixo a sinopse do enredo e o regulamento do concurso de samba-enredo da escola:

ARAUTOS DESCORTINA UM CENÁRIO DE MARAVILHAS

“A decoração deveria ganhar um duplo status, exercer um papel metonímico da festa, anunciando-a, e ao mesmo tempo, ser uma metáfora para um mundo carnavalizado sobreposto à paisagem urbana do cotidiano”
(Helenise Guimarães)

E o Barão se foi…e outras histórias vieram.
A Avenida Central, recém inaugurada, virou, em homenagem, Avenida Rio Branco e, a partir dela, se foi tentando fazer do Rio uma bélle époque – “a moda do francês ganhou freguês na fidalguia”. As reformas de Pereira Passos demarcaram novos territórios culturais, tentando-se construir uma nova cidade – “Pintei meu Rio com retrato de Paris”!

E o Teatro Municipal, recém construído no entorno deste Centro pensado para as elites, virou um polo de concentrações carnavalescas que passaram a ser vistas como atrações turísticas.

Mas, “Enquanto a Avenida Rio Branco abrigava a classe média e as elites, à Praça Onze dirigiam-se cordões, blocos e ranchos carnavalescos, reunindo milhares de foliões que se divertiam em grupo ou isoladamente”.

Este local resistiu ao modelo importado de europeização e foi principal responsável por defender o carnaval como expressão genuína da identidade carioca. E foi no quintal das tias baianas desta pequena África resistente que o samba das escolas de samba nasceu, e resiste até hoje.

Mas o carnaval é uma festa popular, genuinamente brasileira e modernista por conta dessa mistura, algo essencial da nossa festança. E essa mistura se faz no lugar mais democrático que nós temos: a rua.

Arautos abre a cortina
Faz o sonho virar rotina
Pelas ruas da cidade
Joga confete e serpentina
Onde o povo feliz se aglutina
Cheios de felicidade
Os corsos, as grandes sociedades
Vêm ditar o bailado
De um povo fantasiado
Energizado pela alegria
É carnaval
Sejam todos bem vindos!
O que antes existia
Já não faz mais sentido
Foi criado um multiverso
Um mundo invertido

Neste mundo às avessas que é esta festa, pelas ruas que o povo se encontra, independentemente se frequentam o baile glamoroso do Municipal, do requinte dos desfiles das grandes sociedades, ou as rodas de samba da Pedra do Sal.

O luxo das grandiosas fantasias, Pierrôs, Colombinas e Arlequins, misturavam-se a novos modelos que contribuíram para esta mistura se abrasileirar. Baianas, malandros, índios, mulatas também começaram a fazer parte do itinerário carnavalesco carioca.

“O carnaval pode ser visto como uma peça imensa, em que as principais ruas e praças se convertiam em palcos, a cidade se tornava um teatro sem paredes e os habitantes eram os atores e os espectadores”

Sintam este deleite
Com as ruas cheias de enfeites
Como um baile do Municipal,
Como os clubes, como as casas
A rua aceita todo mundo
Em estado de graça 

E o ornamento destacado
Deixa-a mais bonita para o povo se divertir
O espaço se delimita para nos dizer:
“Sim, é aqui!
Venha cá brincar!
Vamos desfilar e nos divertir”

Era preciso, então, delimitar o espaço público festivo, sinalizar os trajetos da festa, enfeitar, ornamentar e decorar. Era o carnaval descortinando esse cenário de maravilhas, fazendo desses lugares um lugar dinâmico e em constante movimento.

Logo oficial do enredo

E assim a festa foi crescendo, transformando, descentralizando e cada vez mais se fortalecendo como uma identidade do carioca. A festa sai “do perímetro central da cidade para encontrá-la ornamentada nos coretos dos subúrbios, nas casas e nos bondes”. As decorações festivas tomam conta da cidade inteira e os coretos, uma simbólica casa carnavalizada num espaço público, indicam esse carnaval onde tudo é às avessas, ou seja, a rua é uma extensão da sua casa e como tal, precisa ser decorada para a rua ser um lar onde as pessoas queiram estar. 

“E é neste contexto que o carnaval se estabelece como porta-voz da identidade nacional”

Neste sentido, o carnaval não mais era aquela festa de balbúrdia e desordem, como eram os entrudos (e como alguns, erroneamente, ainda pensam ser ainda hoje). O carnaval se tornou um patrimônio da cidade e foi oficializado como tal, principalmente com o advento do primeiro desfile das escolas de samba na Praça XI. Isto fez com que se estimulasse nos cortejos a utilização de temas nacionais para as decorações de rua, criando um ambiente para uma competição produtiva entre algumas sociedades artísticas e os alunos da Escola Nacional de Belas Artes, proporcionando ao carnaval se aproximar do escol de artistas e estudiosos dessa arte modernista e nacionalista, permitindo a festa alçar outro patamar, tanto nas decorações de rua como as ornamentações pensadas para os bailes de gala, transformando estes espaços, com o conceito de cenografia teatral, em uma realidade paradisíaca e exuberante.

Se o carnaval é esse “mundo às avessas”, com as intervenções desses artistas acadêmicos, também virou um espaço onírico por conta da sua ambientação e não mais apenas por conta da liberdade e de uma felicidade comezinha, envolvendo os participantes com outros elementos da festa além da música, da dança e da alegria.

Na Presidente Vargas a elite
Na Praça Onze, vem das “tias”, o convite
Baianas pela avenida
Malandros e mulatas
Misturam-se pelas esquinas
Com Pierrôs, Arlequins e Colombinas
Tá feita a diversidade
São as escolas de samba
Exaltando nossa nacionalidade 

A Semana da Arte Moderna
Pelas ruas se manifesta
Se populariza com a festa
O folclore, a africanidade
Explodem por ruas e avenidas
E pelos coretos da cidade
Deixam a localidade mais atrativa
Neste multiverso criado
Para os quatro dias de folia

E assim o carnaval entra num circuito de uma indústria cultural, tornando-se ao mundo a maior vitrine do Modernismo proposto na semana de Arte Moderna de 1922, proporcionando ao artista o movimento antropofágico de hibridação de diversas técnicas artísticas – “resgataram para nossa cultura a beleza do folclore e a riqueza do barroco nacional”.

Com a crescente valorização das escolas de Samba, com a colaboração explícita da turma da Escola Nacional de Belas Artes, misturando o popular com o erudito, os desfiles migraram da Praça XI para a Presidente Vargas, fazendo com que essas ornamentações se tornassem mais opulentas, direcionando-as a um tema específico, sempre inspirados nos modernistas. E é pelo olhar dos artistas da EBA, principalmente na figura de Fernando Pamplona, um personagem que já se fazia mítico no carnaval, que vemos uma “revolução estética” desabrochar.

A Escola de Belas Artes
Desta engrenagem faz parte
E foi grande diferencial
Para esta festa especial,
Que pelas ruas ocorre,
Se tornar imortal
Pois em nossos sonhos,
Ela nunca morre 

Então antes de retornarmos
Ao caos do trânsito, à toda zona
Rendamos graça ao mestre
Fernando Pamplona
Por toda mudança
Nessa nossa festança
Fazendo o verdadeiro Brasil
vir à tona 

Já nas “batalhas”, nos concursos que participava e perdia, via-se uma preocupação do “mestre” de tratar de temas do folclore afro-brasileiro, fugindo das decorações com motivos que nada remetiam à nossa brasilidade, criando um conceito de que as ornamentações não deveriam servir apenas de cenário, mas que deveriam decorar o lugar sem que este lugar perca a sua essência. Porém, mesmo nos concursos para os bailes de Gala, Pamplona e também o genial Arlindo Rodrigues faziam questão de impor elementos do folclore afro-brasileiro e não mais importar temas que nada faziam sentido à nossa cultura.

“Nada nos ocorreu mais brasileiro do que o maracatu, o frevo, o reisado, o bumba-meu-boi, o candomblé, o côco. Não nos ocorreram figuras mais nossas do que o Saci, a Cobra-Coral, a Matinta Pereira, a Yara, os Guerreiros, os Reis e os orixás…seriam motivo de atração legítima para o turista que ousasse nos visitar no carnaval”

Lecionando na Escola Nacional de Belas Artes, estimulou tais batalhas artísticas carnavalescas entre seus alunos, formando outros artistas do carnaval como seus parceiros Arlindo Rodrigues, Maria Augusta, Rosa Magalhães, Lícia Lacerda e tantos outros que este “professor”, o “homem que mudou o carnaval” formou, fazendo-os ter uma visão carinhosa e especial do carnaval carioca, nas decorações e mais tarde, nos desfiles das escolas de Samba que eles também transformaram com seus talentos e criatividade.

Mas sempre tudo volta ao “normal”
Da festa se faz o descarte
E se espera por outro carnaval

Nossa festa carnavalesca tem essa característica de ser uma arte efêmera, mas que se renova ao longo dos anos, porém, inexorável no coração de todos as pessoas que vivenciam esse mundo às avessas. Por mais que ele termine e tudo que se produziu, de alguma maneira, vai para o lixo, o teor da festa, o sentido de se fazer carnaval permanecem no coração de todos e é guardado com todo carinho dentro de cada um de nós. E nossa escola, que já cantou os folguedos e preza por nossas festas populares, exalta as decorações de carnavais para que elas nunca fiquem perdidas no tempo e sejam não só lembradas, mas vivenciadas novamente.

Condecorações
Às decorações
De todos corações!

Influenciada por esse espetáculo a céu aberto, neste ano especial, a Arautos desfilando “debaixo” dessa nuvem virtual, faz o coração de cada componente fervilhar ao descortinar este cenário de maravilhas neste mundo invertido, um multiverso chamado carnaval.

Referências

GUIMARÃES, Helenise. A batalha das ornamentações. A Escola de Belas Artes e o Carnaval Carioca. Rio de Janeiro: Rio Book’s, 2015.

SANTOS, Fabio Antônio Vieira dos. Tem, mas acabou: um estudo da decoração carnavalesca do sambódromo. Rio de Janeiro, 2017.

G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro, 1991. Me masso se não passo pela Rua do Ouvidor. Autores do samba-enredo: Sereno, Luiz Fernando e Diogo.

G.R.E.S. Estácio de Sá, 1992. Paulicéia desvairada, 70 anos de modernismo no Brasil. Autores do samba-enredo: Djalma Branco, Déo, Maneco e Caruso.

Samba-enredo G.R.E.S União da Ilha do Governador, 1997. Cidade maravilhosa, o sonho de Pereira Passos. Autores do samba-enredo: Bujão, Carlinhos Fuzil e Wanderlei Novidade

Regulamento simplificado para o concurso de samba-enredo

O samba deverá ser composto conforme o conteúdo da sinopse disponibilizada e deverá ser inédito, tanto no que se refere à letra quanto à melodia;

Poderão concorrer sambas compostos por um ou mais compositores;

Os sambas enviados deverão conter a letra e o áudio, além de constar nome do(s) compositor(es);

Os sambas deverão ser enviados para o WhatsApp do Fábio (membro da comissão de carnaval da escola): (13) 99101-2696

Os sambas deverão ser enviados até as 23h59m59s do dia 01/06/2022;

A escolha do samba ocorrerá no dia 02/06/2022;

Poderá haver a junção de sambas (2 ou mais) caso a comissão julgadora ache pertinente;

A comissão julgadora poderá solicitar modificações pontuais na letra do samba-enredo escolhido;

Os casos omissos serão resolvidos pela presidência da escola;

Author: Lucas Guerra

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