Brasil, quando voltaremos a nos orgulhar? Porto Carambeí lança enredo para o Carnaval Virtual 2022

O GRES Porto Carambeí apresentou o enredo que defenderá na sua estreia no Grupo de Acesso I do Carnaval Virtual.

Pavilhão oficial da agremiação

Questionando os rumos do país, a escola de São Roque/SP irá apresentar o enredo “Brasil, quando voltaremos a nos orgulhar?”, de autoria do presidente e carnavalesco João Benassi.

Confira abaixo a sinopse a explanação do enredo:

“BRASIL, QUANDO VOLTAREMOS A NOS ORGULHAR?”

Parte 1 – Sinopse:

Escuto de longe um dos maiores sambas já escrito: Aquarela Brasileira, de Silas de Oliveira.

“Vejam esta maravilha de cenário
é um episódio relicário
que o artista num sonho genial
escolheu para este carnaval
e o asfalto como passarela
será a tela do Brasil em forma de aquarela”

 É um ícone! É emoção pura! É contagiante! O povo canta enaltecendo o seu país. Brasil, menino que tanto já nos encheu de orgulho. Brasil, rapaz que tanto já aprendeu. Brasil, senhor que tanto tem sofrido. Será que hoje cantamos esse samba com o mesmo louvor que já cantamos no passado? Questiono-me sobre o rumo que essa Terra tomou. Será que todo o amor que temos por ela não foi apagado pelos grandes imbecis que hoje a comandam?

            Não suporto mais ver seu filho clamar por dignidade, suplicar por justiça, lutar pela vida. Meus olhos enchem-se de lágrimas ao ver uma mãe perder um filho, um pai procurar pela família, um irmão se perder pelas estradas da vida. Indigna-me a guerra urbana que assola de norte a sul, leste a oeste. Não é polícia contra ladrão, é irmão contra irmão. É um mar de sangue e violência. A vida nunca valeu tão pouco.

Onde se encontra a paz?

            Indigna-me ver o poderoso varrer para debaixo das pontes e viadutos o mais pobre. Obrigá-los a subir o morro, a se amontoar em barracos e morrer soterrado. A família é desolada. Morrem a ancestralidade, a atualidade e o futuro. O manto deste país, hoje está manchado de lama. É pé no chão de terra batida. Moradia ao lado de córrego poluído.

            Sinto-me encolerizado com tamanho descaso. São mais de 600 mil conterrâneos que perderam a vida para a negacionismo, que morreram afogados ao seco. Cadeia para aqueles covardes que afundaram a saúde do Brasil!

            Cadeia também para aqueles que, tentam “passar a boiada” em momentos difíceis que enfrentamos. Que tentam desolar cada vez mais uma das maiores riquezas que temos: a Amazônia. A exploração desenfreada é um câncer no pulmão verde do mundo. O Garimpo ilegal assoreia os rios, invade terras protegidas e causa conflitos com os donos de terra. É o reinado da ganância! Peço justiça por toda a fauna e flora que foram reduzidas às cinzas nas grandes queimadas do pantanal. A Fera das Matas hoje sofre com as patas queimadas.

            Corrói-me ver um conterrâneo se debruçar sobre carcaças jogadas ao léu por não aguentar mais a dor da fome. São famílias que sobrevivem com apenas pão e água. Causa-me úlceras escutar: O POVO ESTÁ MORRENDO DE FOME!

            Esse país está afogado na ganância, no desamor e na exploração.

            Precisamos reagir! Precisamos nos levantar, brava gente! Precisamos partir para o combate. Vamos à luta, meu povo!!! Vamos voltar a sentir orgulho desse país. Expulsar aqueles imbecis! Vamos nos ajudar, apoiarmos uns aos outros. Eu preciso de você assim como você precisa de mim, pois eles esqueceram de nós. Na verdade, eles nunca se importaram conosco. Vamos educar nossos pimpolhos! É através da educação, da cultura e da arte que conseguiremos quebrar as correntes.

 Vamos evocar os excluídos dos quatro cantos deste país!

Logo oficial do enredo

Parte 2 – Explanação do Enredo:

Em 2022, a G.R.E.S. Porto Carambeí trará um enredo crítico, onde escancararemos as mazelas deste país. O enredo inicia-se com uma reflexão sobre o samba-enredo do Império Serrano, de 1964, do compositor Silas de Oliveira. A música enaltece as maravilhas do Brasil, passando pelas cinco regiões do país.

Porém, questionaremos se hoje cantamos este samba com a mesma empolgação e orgulho que cantamos em 1964 e em 2004, quando o Império Serrano reeditou esse desfile. O que mudou de lá pra cá? O que nunca foi resolvido?

A primeira crítica que faremos é sobre a guerra urbana que enfrentamos, principalmente nos grandes centros. É tiro para todo lado. É policial matando civil, é policial sendo morto por traficante e traficante sendo executado por policiais. É um verdadeiro mar de sangue. Quantas vidas já não foram perdidas? Quantas pessoas inocentes, cheias de sonhos e amor não morreram? De perdidas, as balas, não têm nada. Estão sempre endereçadas a alguém. Por que o seu povo se mata? Onde conseguiremos encontrar a paz?

O segundo assunto que abordaremos é o problema de moradias, o Brasil divide-se entre o condomínio de segurança máxima e o restante. É isso mesmo, o resto. O resto que não possui segurança na porta de casa, o resto que é varrido para debaixo dos viadutos, o resto que é lançado morro acima, o resto que se amontoa para tentar viver. A cada verão podemos ver enchentes levando tudo que encontram pela frente: lixos, casas, vidas. A cada verão, vemos famílias sendo desoladas devido à deslizamentos. São vidas ceifadas pela lama. São soterrados os avós, os pais e os filhos. A casa que foi erguida com tanto suor, hoje se resume a escombros.

O terceiro ponto, será a saúde do país que nunca foi tão deturpada quanto nos últimos anos. Não poderíamos deixar de citar o massacre causado pela pandemia do coronavírus. São mais de 600 mil brasileiros que perderam a vida. São inúmeras famílias que deixaram de olhar nos olhos daqueles que mais amavam. Que enchem os olhos de lágrimas ao lembrarem de momentos com seus entes. Quantas pessoas morreram com a falta de respiradores no Amazonas? Quantas vidas foram determinadas pela “sorte” de ser escolhido para o tratamento? Como não fomos os primeiros a vacinar nosso povo? Como deixaram para depois essa “gripezinha”? Quando os responsáveis serão punidos? Cadeia neles! A impunidade ainda desfila com garbo e elegância.

            Também falaremos sobre o meio ambiente, onde pediremos cadeia para todos os responsáveis pelas grandes queimadas no Pantanal e a exploração desenfreada da Amazônia. O garimpo tem crescido cada vez mais em nosso país, e o mais indignante é sabermos que estão amparados por grandes políticos, que tentam “passar a boiada” em momentos onde o país enfrenta uma das suas maiores dificuldades de saúde. Os ecossistemas brasileiros estão enfrentando um grande câncer. Mas até quando eles aguentarão? Até quando nós continuaremos retirando e não devolvendo? Quando aprenderemos a “conviver com” e a não a “esbanjar de”? Quando pararemos com o egocentrismo para começarmos a entender que somos parte de um todo, ou seja, que somos apenas uma gota no meio do oceano?

            E como não falar da fome? Ela mesma, a velha companheira dos pobres e abandonados. Como não se contorcer ao saber que irmãos e irmãs se debruçam sobre carcaças jogadas ao léu para conseguirem algo para comer? É FOME! É FOME! É FOME! Se não ficou claro, vamos repetir novamente: É FOME! É inadmissível permitir que isso ocorra.

            Como poderemos cantar “Vejam esta maravilha de cenário”, sabendo de tudo isso que enfrentamos? Como encontraremos o orgulho que tanto já tivemos por esse chão?

            Precisamos lutar! Precisamos combater o preconceito, a ganância, o desamor, o ódio gratuito, e a exploração! Precisamos nos apoiar uns aos outros para que juntos consigamos chegar ao nosso objetivo: um país melhor. Precisamos educar as novas gerações. Precisamos levar a cultura e arte para todos. Precisamos evocar todos que sofrem e dar voz ao povo.

            Brasil, você não está sozinho.

Author: Lucas Guerra

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